44ª Assembleia Geral dos Povos Indígenas de Roraima foi realizada em março

Philip Njuma

O estado de Roraima realizou a 44ª Assembleia dos Tuxauas que congregou cerca de 1.220 participantes entre os dias 10 e 15 de março no Lago Caracaranã, em Boa Vista, Roraima. O tema foi "Fortalecer a nossa união, cultura, direitos, e autonomia". As Regiões e Associações representadas eram Amajari, Baixo Cotingo, Murupu, Raposa, Serras, Serra da Lua, Surumu, Wai wai, Taiano, Associação Kapoí, povos indígenas na cidade, Equipe da Saúde - SESSAI e Fundação Nacional do Índio - FUNAI, entre outros convidados.

O coordenador do Conselho Indigenista de Roraima - CIR, Mário Nicácio, que também é coordenador da Região da Raposa acolheu os participantes no dia 11 e logo após, a Região das Serras dirigiu a oração inicial e a apresentação de cada participante foi feita em forma das regiões, associações e em grupos dos convidados. Nicácio apresentou a programação e a ata da Assembleia do ano passado, que foi lida e aprovada.

Cada Região foi convidada a apresentar os dados atuais de sua realidade, comentando também sobre os desafios que está enfrentando no momento. O problema mais frequente nas comunidades foi citado: casamentos das meninas indígenas com os motoristas não-indígenas. Essas meninas trazem pensamentos diferentes nas comunidades e às vezes, isso afeta o bem viver. Foi decidido estudar como incorporar ou orientar os pensamentos dessas meninas no âmbito indígena sem prejudicar o bem viver da comunidade e sem condená-las. Foi comentado que os povos indígenas precisam ter cuidado de não ter indígenas entre eles com pensamentos dos brancos que massacram o seu povo, a sua língua e a sua própria cultura.

Um dos Tuxauas comentou que alguns povos indígenas não gostam de assumir a sua identidade. Ele falou que já ouviu alguém dizendo, "eu não quero ser mais índio e nem vou dançar parrisharra (dança típica dos povos indígenas)". Esse Tuxaua afirmou que "os povos indígenas não podem recuar, não podem desistir, não podem desanimar, mas devem sempre lutar até o último respiro. Eles não podem deixar perder a sua cultura e a sua língua. O povo que perdeu a sua cultura, que tem terras demarcadas e homologadas, mas ainda passa fome, que dorme no lixão, que não tem autonomia, esse não é povo mais, e nem merece respeito nenhum". E acrescentou "os povos indígenas de Roraima ainda têm a sua língua, a sua cultura, os seus direitos e a sua autonomia, mesmo que precisem ser fortalecidos, caso contrário vão acabar se perdendo".

Os mais experientes sempre insistem nas palestras sobre a questão das lutas para conquistar as terras e os direitos de conservar a língua materna e a cultura, mas eles precisam não apenas dar conselhos, mas também dar exemplos. A frase que resoava muitas vezes na Assembleia era, "Anna pata, Anna Yan", isto é, Nossa Terra, Nossa Mãe. A terra para o indígena é o seu meio de sobrevivência. Os povos indígenas consideram a terra como um altar, pois, dela extraem e partilham a vida. Terra e natureza são, para eles, ‘mãe'. Isto acontece por ser da terra que se gera a vida, da mesma forma que a mãe dá a luz ao filho.

Outro problema preocupante foi a seca que está afetando a criação do gado. Foi decidido tentar articular projetos que possam ajudar a criar mais poços para combater a seca em qualquer momento que chegue. Foi também destacada a questão da Saúde, cujo órgão responsável precisa rever a questão das estruturas em ruínas e os medicamentos que sempre estão em falta.

O segundo dia começou com a oração inicial guiada pela Região de Baixo Cotingo. Logo após teve repasse das informações a respeito da segurança no local da Assembleia e seguiu-se a apresentação dos participantes que não conseguiram chegar para a Assembleia no primeiro dia. Logo após o tema do dia foi discutido, ou seja, o projeto uma vaca para o índio e outros. O projeto do gado foi apresentado como está no estatuto e seguiu-se o debate a respeito do mesmo. O único projeto que deu certo e perseverou foi o projeto do gado. O fim primordial do projeto foi ocupar as terras. A Assembleia concordou em continuar com o projeto como está no estatuto e tentar cuidar bem do gado pra usufruir os benefícios, em vista de alcançar autossustentação.

Durante a noite, foi tratada a questão do Festival da Música que vai valorizar a cultura indígena. A proposta foi aprovada na Assembleia e ficou para a equipe responsável concretizar o festival neste ano 2015 numa das Regiões no Estado de Roraima.

Foi feita também uma avaliação da eleição partidária de 2014. Os candidatos Sr. Mario Nicácio e Sr. Aldenir agradeceram toda Assembleia para ter votado neles mesmo em baixa porcentagem. Eles afirmaram que a derrota foi devida à desunião entre os povos indígenas, a implantação dos candidatos indígenas na última hora pelos candidatos brancos em vista do enfraquecimento de todos, e por último, venda dos votos entre os povos indígenas.

O terceiro dia da Assembleia começou com a oração inicial e logo após entramos no tema do dia sobre a questão fundária, gestão territorial e ambiental: vigilância e fiscalização, invasão, indenização e desintrusão. A respeito do tema, foi citada uma comunidade de Anzol que ainda não é reconhecida e está sendo ameaçada pelos invasores de pesca e de madeira. Outro tema discutido foi a Saúde Indígena. O dia foi marcado pela presença do Senador Telmário Mota e encerrado com a noite cultural.

O último dia da Assembleia discutiu a Educação Escolar Indígena. O dia foi marcado pela presença de dom Roque Paloschi, da senadora Ângela Portela e do líder Yanomami Davi Kopenawa.

No final da tarde, cada Região se reuniu para fazer sua avaliação e apresentar suas propostas. Após o jantar, houve a apresentação dos planejamentos regionais, avaliação da coordenação do CIR e aprovação das propostas. Os coordenadores gerais do CIR, Mario Nicácio, Ivaldo André e Telma Marques reassumiram mandatos para mais dois anos, 2015 a 2017, frente a uma das organizações indígenas mais conceituadas do Brasil. A nova coordenação geral do CIR tomou posse na presença das lideranças indígenas dos povos indígenas Macuxi, Wapichana, Patamona, Taurepang, Sapará, Ye'kuana, Yanomami e Wai-Wai, representantes de organizações indígenas locais e regionais, de entidades parceiras e instituições públicas participantes e em seguida, houve o encerramento oficial da Assembleia.

Fonte: Revista Missões

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