Beleza, se aparecer!

Nei Alberto Pies *

"Amamos as pessoas não pela beleza que existe nelas, mas pela beleza nossa que nelas aparece refletida" (Rubem Alves, educador)

Os professores e professoras da rede pública de nossa cidade ainda mantém estranha mania de inventar, de recriar e de projetar possibilidades de viver em esperança. Seres humanos precisam, permanentemente, encontrar sentido à sua existência e à sua condição de ser e existir. Para uns, vocação. Para outros, profissão ou ofício. É preciso cuidar muito para não tornar-se lagarto, mas sim para viver a metamorfose das borboletas, como ensina Rubem Alves. É preciso aparecer, encontrar a sua beleza, que será apreciada, criticada e manifestada pelos outros.

Em roda, em círculo, em ciranda. Um grupo de professores aceitou o convite para realizar uma experiência de trocas: de histórias, de saberes, de motivações e reflexões. Objetivo? A busca do saber, de forma desinteressada, mas orientados por um cirandeiro. O prazer de se encontrar é premissa para a ciranda. O cirandeiro tem a função de provocar, dar vida à ciranda. Todos os convidados e inscritos participaram da ciranda, pelo prazer de estar aprendendo juntos. O projeto chama-se Saberes em Ciranda e é uma promoção do Centro Municipal de Professores de Passo Fundo, RS.

Na roda, todos compartilharam muitas histórias de vida e de superação para sobreviver e existir, a partir de sua infância e adolescência. O mundo é mesmo cruel e sufocante para cada um de nós. Exige que nos tornemos sujeitos de nossa história, mas não apresenta nenhuma receita para fazê-lo. Observou-se, de forma bem expressiva, que cada um, a seu modo e a seu jeito, teve de "buscar o seu lugar ao sol", afirmando-se solitariamente.

Na família e na escola, espaços criados para a nossa humanização, nem sempre há espaços para a nossa libertação. As disputas, naturais entre os seres humanos, não permitem vivência de liberdade e realização pessoal de cada um. Mas foram outras experiências que, somadas à insistência e vontade pessoais, deram condições de cada um aparecer para o mundo e para os outros. Diversas experiências foram citadas: o desafio e aposta de uma professora, a compreensão de um amigo ou irmão/irmã, a ajuda de uma tia ou de um amigo adulto, as diferentes leituras e literaturas, as oportunidades de outros coletivos como sindicatos, seminário de padres, grupos de jovens.

Refletiu-se, ainda, sobre a "ditadura da fala". Constatou-se que a sociedade cobra de cada um, preferencialmente, boa comunicação através da boa fala. Mas não há outras tantas formas como a arte, a música, o silêncio, o desenho, o corpo, os gestos, o teatro, a boa memória para a gente ser reconhecido pelos outros? Sim, porque aparecer aos outros acontece quando cada um de nós se sente aceito, compreendido, querido e amado pelos outros. Esta é a nossa maior luta humana: aparecer. Ser visto para ser lembrado e incluído.

Como educadores, temos responsabilidade de permitir o desabrochar da beleza e individualidade de cada educando ou educanda que está convivendo conosco e precisando aparecer. Sem aparecer, ninguém vive, ninguém existe. É fundamental mudarmos nossa percepção de ser humano, para permitir as diferentes formas de comunicação humana, como preconiza a Educomunicação.

* Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

Fonte: Revista Missões

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