As duas irmãs gêmeas: DSI e Política

Fernando Altemeyer Junior *

A relação entre Doutrina Social da Igreja e Política é profunda, germinal e complexa. Ambas foram tecidas nos tempos modernos como ferramentas da ação cidadã. Agir nas cidades e agir como cristãos. Este será assunto de importante Congresso Internacional sobre a Doutrina Social da Igreja a ser realizado em parceria do UNISAL com a PUC, de 29 a 31 de outubro, no UNISAL São Paulo/Santa Teresinha.

Estas duas irmãs nascidas com uma vocação comum tem muitas vezes sintonizado em temas relevantes, mas poucas vezes há conflito e distância nervosa.

Há sintonia quando os cristãos e os cidadãos laicos vivem e agem politicamente motivados por valores e projetos comunitários e universais. Há sintonia quando cristãos e cidadãos comuns não se acomodam à mesmice e ao status quo, defendendo privilégios, nepotismos ou em alguns casos, até participando de pequenas corrupções institucionais ou confessionais, olvidando que política e religião são instrumentos de algo maior que é a fraternidade e a solidariedade. Há conflito quando não se cuida do exercício do poder e se faz da democracia uma palavra vazia e oca que tira a esperança dos empobrecidos. Há conflito quando grupos ocultos de poder e muito dinheiro compram as consciências de cidadãos e de cristãos subvertendo a democracia e a participação das pessoas nas decisões em favor da vida e da dignidade humana.

Há sintonia quando um cristão exerce um cargo público ou estatal e faz confluir as energias de todos para um plano diretor que estimule a juventude e os grupos da sociedade civil para viver melhor em nossas cidades, superando o medo e a inércia que paralisam e empobrecem a vida e os sonhos. Há conflito quando os leigos cristãos fogem da política e quando os políticos fazem ouvidos surdos para os clamores das comunidades organizadas. Diálogo de surdos gera uma sociedade doente.

Se é verdade que há uma distinção clara entre a esfera política e a esfera religiosa, é também verdade que o ser humano vive muitas dimensões como caminhos necessários da própria humanização. Que seria de nós sem a política? Que seria de nós sem uma sexualidade madura? Que seria de nós sem fazer democracia ativa? Que seria de nós sem a abertura para Deus e a transcendência? É hora de diálogo e de encontrar cristãos maduros no exercício da vida democrática, presentes em ONGs, movimentos sociais e partidos, tendo como critério a beleza do bem comum. A política é a forma mais elevada do amor. Que este Congresso retome as pontes originárias entre DSI e Política. Esse foi o papel conectivo de tantos cristãos políticos como Frederic Ozanam, Edmond Michelet, Clotário Blest, Alceu Amoroso Lima, André Franco Montoro, Plínio Arruda Sampaio, Konrad Adenauer, e, sobretudo Giorgio La Pira, jurista e prefeito de Florença, um santo político italiano. São João Paulo II dissera em 1990 no Brasil: "O Brasil precisa de santos". Hoje podemos clamar: "O Brasil precisa de santos políticos."

* Fernando Altemeyer Junior é professor da PUC-SP.

Fonte: www.unisal.br

Deixe uma resposta

dezessete − dezesseis =