Japão: flores na terra arrasada

Olmes Milani *

A sociedade japonesa está profundamente abalada com as destruições causadas pelo terremoto de 9.0 da escala de Richter com o epicentro à distância de 130 quilômetros a nordeste da Ilha do Honshu, provocando que se levantasse uma parede de 10 metros de água jogando-se em seguida contra boa parte da costa do país. Infelizmente a grande mídia destaca quase que exclusivamente a tragédia deixando de lado as flores que teimam em desabrochar mesmo em terra arrasada.

Sem dúvida o povo japonês já deu testemunho de fortaleza, de persistência, de trabalho abnegado e de amor a sua terra quando reconstruiu as cidades de Tóquio e Yokohama, destruídas pelo grande terremoto de 1923 que ceifou a vida de 150.000 pessoas aproximadamente. Lembramos que o país foi arrasado por duas bombas atômicas e bombardeado em quase toda sua extensão territorial durante a Segunda Guerra Mundial. A Capital Tóquio, só num bombardeio noturno, viu mais de 100.000 pessoas mortas. Acabada a guerra, o povo enfrentou a árdua tarefa de reconstruir a Terra do Sol Nascente. Cada trabalhador destinava duas horas de seu trabalho diário para recuperar seu país.

Atingidos por um terremoto e seguido de tsunamis (ondas) arrasadoras no dia 11 de março, os japoneses revelam o lado que a mídia desconsidera. Silenciosos, introspectivos e trabalhadores abnegados, os japoneses se dispõem a levantar o país de seu maior desastre depois da II Guerra, como afirmou o primeiro Ministro Kan. Pode-se perceber que existe uma mobilização com o objetivo de recuperar o país.

No drama em que o país vive podemos ressaltar algumas coisas que certamente contribuirão para diminuir um pouco os sofrimentos das vítimas. A pequena Igreja Católica no Japão, logo no dia seguinte da grande tragédia convocava as paróquias e as comunidades para contribuírem com a Cáritas do Japão para ir ao encontro das necessidades dos sobreviventes da catástrofe. Os católicos são somente 0,5% da população, mas seu óbulo que está sendo depositado e será muito valioso para as vítimas.

O terremoto, seguido de tsunamis, tirou de operação diversas geradoras de energia. O governo foi obrigado a programar apagões para economizar eletricidade a fim de ser enviada às regiões atingidas. O racionamento significa transtornos colossais para os milhões de pessoas que usam o sistema de transporte ferroviário. No entanto o povo os enfrenta sem reclamar por respeito às vítimas. Os funcionários das estações demonstram disposição e cortesia maravilhosas orientando os passageiros de forma eficiente, aliviando as aflições causadas pelos interrupções dos serviços. Como não pode deixar de ser, sempre pedindo desculpas pelos inconvenientes.

O governo por sua parte demonstra que os migrantes que moram neste país também merecem consideração. Aí está a TV estatal NHK que transmite as orientações para casos de desastres em diversas línguas, inclusive em português.
As grandes montadoras de automóveis e muitas fábricas,também entraram na corrente solidária, interrompendo a produção a fim de que a energia não usada fosse enviada para socorrer as vítimas nas áreas afetadas. A população também economiza energia. Em vista da colaboração, os apagões programados tiveram seu tempo reduzido.

Os trabalhadores estrangeiros que vieram em busca de oportunidades de vida melhor estão se unindo para compartir o pouco que possuem com quem perdeu tudo, menos a vida. Entres os imigrantes, especialmente os brasileiros, merecem destaque neste momento difícil da história do Japão.Embora, constituindo a classe mais pobre do país estão escrevendo seu capitulo de solidariedade para com a sociedade que os acolhe. Em diversas províncias formaram-se grupos espontâneos, ou com o apoio das igrejas cristãs e de associações de qualquer natureza para organizar coletas de água e comida para as vítimas. Uma instituição de ensino usou o ônibus de transporte escolar para levar auxilio às áreas de catástrofe, viajando durante á noite.

A loboriosidade e a determinação do povo japonês, apoiado pela solidariedade internacional, fará o sol da alegria brilhar novamente para que na terra arrasada as flores desabrochem.

* Padre Olmes Milani, CS, missionário Carlista em Tóquio, Japão.

Fonte: www.provinciasaopaulo.com

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