Migrantes e refugiados

Cardeal Geraldo Majella Agnelo *

"A caridade de Cristo para com os migrantes nos estimula (cf. 2Coríntios 5,14) a tratar sempre de novo seus problemas que, agora, dizem respeito ao mundo inteiro. De fato, praticamente todos os países, por um lado ou por outro, confrontam-se hoje com o irromper do fenômeno das migrações na vida social, econômica, política e religiosa, um fenômeno que sempre mais vai assumindo uma configuração permanente e estrutural". Assim se abre a Instrução A caridade de Cristo para com os Migrantes do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes.

Bento XVI, na encíclica social A Caridade na Verdade, n° 62, pede aos fiéis atenção ao fenômeno às migrações, definindo-o "fenômeno social próprio da nossa época que deve ser enfrentado com "determinante vontade política de cooperação internacional" se se quer administrar adequadamente.

Participei do VI Congresso Mundial da Pastoral para os Migrantes e Refugiados, a fim de estudarmos uma resposta pastoral ao fenômeno migratório na era da globalização.

Entre as causas que induzem milhões de homens e mulheres a emigrar, Bento XVI enumera a "extrema insegurança de vida, que é conseqüência da carência de alimentação, a questão da água, da agricultura, do ambiente, e da energia. Naturalmente tudo é considerado na combinação de direitos e deveres, com atenção ao nexo direto entre "pobreza e desocupação" e ao "trabalho decente" que é direito de todos os trabalhadores, também dos irregulares, e "Convenção internacional sobre a proteção dos direitos de todos os trabalhadores e dos membros de suas famílias".

Tenha-se presente à afirmação pontifícia que existe espaço para todos em nossa terra: sobre ela a inteira família humana deve encontrar as reservas necessárias para viver dignamente, com ajuda da natureza mesma, dom de Deus a seus filhos, e com o empenho do próprio trabalho e da própria capacidade inventiva. Sempre será necessário adotar "novos estilos de vida", estreitamente conexo com a educação, sem se esquecer da necessidade de realizar "uma nova ordem econômico-produtiva mundial, socialmente responsável e à medida do homem".

Outra cauda de migração, e ao mesmo tempo seu efeito, é a globalização, isto é a "explosão da interdependência planetária", já prevista por Paulo VI na Populorum Progressio. Trata-se de um fenômeno que contribuiu grandemente para fazer sair inteiras regiões do subdesenvolvimento. A globalização porém pode concorrer a criar riscos de danos desconhecidos até agora e de novas divisões na família humana. De fato "a sociedade sempre mais globalizada nos torna vizinhos, mas não nos torna irmãos. A razão, por si só, pode atingir a igualdade entre os homens e estabelecer uma convivência cívica entre si, mas não consegue fundar a fraternidade. Esta "falta de fraternidade entre os homens e entre os povos está entre as causas mais importantes do subdesenvolvimento. É necessário que a maior vizinhança entre as pessoas, hoje, se transforme em verdadeira comunhão, se quisermos chegar ao autêntico desenvolvimento dos povos. De fato, isso "depende sobretudo do reconhecimento de sermos uma só família, que vive em verdadeira comunhão e é constituída por sujeitos que estão simplesmente um ao lado do outro".

O autêntico desenvolvimento, efetivamente, provem da "condivisão dos bens e das reservas, que é assegurada só do progresso técnico e por meras relações de conveniência, mas pelo potencial de amor que vence o mal com o bem, e abre com reciprocidade consciências e liberdades". A questão ética da procura de uma nova ordem econômica internacional por uma justa distribuição dos bens da terra, contribuiria a reduzir e moderar os fluxos das populações em dificuldade.

Em nossa sociedade de globalização, o bem comum e o empenho para isso não podem assumir as dimensões de toda a família humana, isto é da comunidade dos povos e das nações, para dar forma de unidade à cidade do homem, torná-la em alguma maneira antecipação e prefigura da cidade sem barreira de Deus, dia o Papa.

* arcebispo de Salvador e presidente da CNBB

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