Dom Helder, no contexto dos Direitos Humanos

No dia 10 de dezembro, celebramos o Dia Universal dos Direitos Humanos. Nada mais justo que lembrar de dom Helder Câmara, defensor inquestionável da causa.

Por Geovane Saraiva*

Dom Helder, no contexto dos Direitos Humanos, nos ensina o valor da oração, na sua humilde e simples súplica aos céus, ao apontar para um infinito de liberdade, no sonho da criatura humana integralmente livre, no compromisso por uma habitação harmoniosamente na presença de um Deus afável e amoroso. Da parte das pessoas, nada de se extasiar, quando se deparam com aparências, na maioria das vezes superficiais, enganosas e ilusórias.

DomHelderCamaraViver, sim, mas acreditando no bem como condição elevada e suprema, a partir do mistério do grão ou da semente que nasce e cresce, mas que necessita da luminosidade incalculável, da luz aquecedora, germinadora do Sol, que, alegoricamente, resume-se na esperança, com seu fundamento em Deus. “Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. Tirou das turbulências, das lamas do pântano, de todo tipo de obscurantismo, e pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos” (cf. Sl 40).

O Dia Universal dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, nos faz voltar para Dom Helder Câmara: “Quem estiver sofrendo no corpo e na alma; quem, pobre ou rico, estiver desesperado terá lugar especial no coração do bispo”. O Brasil e o mundo conheceram um Dom Helder sendo porta-voz dos injustiçados e dos empobrecidos, nas suas posições em favor de um mundo mais de acordo com a vontade de Deus, fraterno e solidário, numa Igreja encarnada, pobre e servidora. Conhecemos um Dom Helder na sua bravura e audácia, no respeito pelas pessoas e cheio de amor para com os sofredores, totalmente identificado com os Direitos Humanos.

A ninguém pode ser negada a liberdade fundamental, oriunda de Deus, apropriando-se de Dom Helder, pastor da paz e da ternura, que se sentia honrado quando, com inveja do seu protagonismo, o acusavam de utópico e sonhador, porque ele se aproximava do “cavaleiro andante”; e dizia-lhes com muita habilidade, segurança e convicção: “Comparar-me a Dom Quixote está longe de ser uma nota depreciativa”. E acrescentava-lhes: “Ai do mundo se não fosse a utopia, ai do mundo se não fossem os sonhadores”. Dom Helder, no Dia dos Direitos Humanos, nos convence do poder de Deus, eliminando todo tipo de sujeição, como no episódio da viúva de Naim: “Ao chegar perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto a ser sepultado, filho único de uma viúva; acompanhava-a muita gente da cidade. Vendo-a o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: 'Não chores!'” (cf. Lc 7, 11-13)

Como é maravilhoso, no Dia Universal dos Direitos Humanos, indignados num sentimento, não de choro, mas numa promissora esperança, recordar o Patrono dos Direitos Humanos! Aqui alguns dos seus sapientes pensamentos: “Mesmo que a maior angústia te visite e te acompanhe, não te deixes que ela reflita em teu rosto”; “O mundo agitado e triste precisa que leves contigo tua paz e tua alegria”; “Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo”; “Feliz de quem atravessa a vida tendo mil razões para viver”; “Tenho pena, Senhor, dos sem abrigo, e mais pena ainda dos instalados, dos enraizados, que fizeram da terra morada permanente”. Recordá-lo, sim, como um referencial, arquétipo e irmão exemplar, no compromisso pela vida, dom e graça de Deus.

*Geovane Saraiva é Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

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