África História do cristianismo

O cristianismo começou a ser religião do Estado no continente, antes do que na Europa.

de Isaack Mdindile*
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Foto: sapo.pt

A origem do cristianismo na África tem traços desde os tempos dos apóstolos. É no Cairo que existe a veneração da Igreja que foi construída no lugar que a Sagrada Família de Maria, Jesus e José morou quando se refugiou no Egito. Moisés nasceu, cresceu e teve a revelação de Deus no Monte Sinai, no Egito. Foi a África que amamentou e criou pontes entre o cristianismo e o Islã como filhos do Pai Abraão.

O Egito e toda área da África do Norte tiveram Santo Agostinho e Santo Atanásio como pilares da cristandade. Existem pelo menos três grupos que contribuíram para o florescimento do cristianismo na África branca: os judeus-cristãos (100 d.C.), os cristãos-helenísticos (200 d.C.) e os cristãos-coptas (300 d.C.).

Os judeus-cristãos que moravam no Egito estavam ligados aos apóstolos e a tradição credita e venera São Marcos como fundador de sua comunidade em Alexandria. Marcos teria ordenado o bispo Annianus em 62 d.C. Na época, a grande cidade de Alexandria era refúgio dos judeus da diáspora. Historicamente, o primeiro cristão de Alexandria seria o pregador eloquente Apolo, que encontramos na Carta aos Coríntios. A prova da existência dessa comunidade no Egito está em papyri (papiros) descobertos em muitos sítios. Um antigo papiro de 120 d.C. tem fragmentos do Evangelho de São João. Outra descoberta feita em Nag Hammadi no ano de 1948 mostra a existência do grupo dos gnósticos no século IV depois de Cristo.

Damos continuidade nesta edição à história e expansão do cristianismo no continente.

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Foto: Arquivo IMC

Cerca de 300 anos d.C. o Egito era dominado por Alexandre, o Grande (332). Todos os estados do Faraó sofreram a colonização dos gregos, a famosa helenização. Alexandria tornou-se mais cidade metropolitana que Atenas e nasceu a Escola de Teologia de Alexandria, portanto podemos afirmar que a teologia cristã começou em Alexandria. A Escola começou com o desconhecido Pantaenus (180 d.C.) e continuou com os discípulos fiéis Clemente da Alexandria (200 d.C.) e Orígenes (220-254 d.C.).

A cidade de Alexandria era tão importante como Roma e isso resultou na criação do patriarcado de Alexandria, que contava com cem bispos. O primeiro foi Demetrius (189-231 d.C.), bispo de Orígenes e Clemente. Depois, Peter Martyr (305-312 d.C.) morreu de perseguição e é o primeiro santo do Egito. O bispo Atanásio (328-373 d.C.) é pai da Ortodoxia e foi famoso por sua veemência na defesa da divindade de Cristo contra a heresia do Arianismo, que considerava Jesus um mini deus e mera criatura.

A maioria dos egípcios que se convertiam ao cristianismo era cóptica. O bispo Demetrius tinha mandado muitos missionários para convertê-los, mas depois o Imperador Septimius Severus proibiu a conversão. Os livros e a Bíblia do dialeto Sahidic foram banidos.

Controvérsias cristológicas

Infelizmente, a partir dos anos 640, com a invasão dos árabes em nome de jihads, a expansão do cristianismo diminuiu. Quando a cidade de Carthage foi assaltada pelos árabes em 697, no mesmo ano, o rei Mercurios de Nubia criou o reino do cristianismo de Aswan ao Rio Nilo. Portanto, mesmo com ataques e invasão dos árabes, houve renovação e restauração da Igreja, especialmente sob a figura dos monges-leigos Yikunno Amlak e Takla Haymanot. Mas, também, o monasticismo do Egito com as notáveis figuras de Santo Antônio e São Moisés de Etiópia atraia muitos peregrinos do mundo todo. Foi no século IV d.C. que o rei Ezana da Etiópia oficializou o cristianismo como religião do império.

Mesmo com toda essa beleza testemunhante, houve cisma também, por causa das controvérsias cristológicas. O problema era que os monges enfatizavam mais a natureza divina de Jesus que humana (heresia de monofisismo). De fato, no Concílio de Éfeso (431 d.C.), o patriarca Cirilo de Alexandria defendeu a doutrina cristológica contra Nestório, que defendia Maria como mãe de Cristo e não mãe de Deus. E finalmente, Nestório foi condenado. No outro Concílio de Calcedônia (451 d.C.), outra heresia sobre o monofisismo defendia a inferioridade da natureza humana de Cristo sob a natureza divina. O patriarca de Alexandria, Dioscorus II foi o mega defensor de união hipostática de Cristo. Ai os coptas não gostaram, e rejeitaram todo Concílio de Calcedônia. Portanto, a Igreja Copta foi separada de Constantinopla e Roma.

No hemisfério sul, o rei Afonso do Congo e seu filho, o bispo Henrique por mais de 20 anos trabalharam muito para estabelecer o cristianismo no sul da Africa. Com ajuda da Roma, trouxeram 440 religiosos capuchinos ao continente. Quando a África do Sul teve sua missão permanente dos Moravianos em 1792, ora, a África Ocidental tinha sua primeira igreja dos escravos que voltava da América.

Não podemos falar do triunfalismo do cristianismo primitivo na África sem falar das contribuições existenciais dos mártires e muitos doutores, escritores africanos dos primeiros séculos como Orígenes, Santo Atanásio, São Cirilo, Tertuliano, São Cipriano e Santo Agostinho. Mas, também dos papas africanos como Victor I, Merquíades, e Gelásio I. O cristianismo começou a ser a religião de estado na África, antes da Europa.

*Isaack Mdindile, imc, é seminarista em São Paulo, SP.
(CC BY 3.0 BR)

3 comments

  1. Nubia 20 novembro, 2020 at 11:37 Responder

    Que cada vez mais essa verdade seja difundida, de que o cristianismo foi religião de Estado primeiramente em África e depois na Europa.

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