A espiritualidade presbiteral segundo o Papa Francisco: pastor e não funcionário

Rádio Vaticano

O prefeito da Congregação para o Clero, Cardeal Beniamino Stella, fez dias atrás em Florença - região italiana da Toscana - uma conferência sobre a espiritualidade presbiteral segundo o Papa Francisco. Propomos, a seguir, alguns trechos da conferência, publicados no jornal vaticano "L'Osservatore Romano".

Partindo da resposta do Santo Padre à pergunta "Quem é o presbítero?", o purpurado, de fato, evidenciou a espiritualidade presbiteral segundo o Pontífice. O Papa Francisco responde dizendo que o presbítero, em primeiro lugar, é e permanece sendo um discípulo do Senhor.

Trata-se de uma afirmação simples somente aparentemente, que traz consigo consequências importantes para a vida dos presbíteros e para o seu ministério. Efetivamente, um presbítero que se sente discípulo não deixará de ter zelo para com sua relação pessoal com o único Mestre, não sentirá "ter chegado" ao ápice, tendo ao máximo a tarefa de "manter" o nível espiritual alcançado.

A espiritualidade presbiteral comporta também um traço característico, muito presente nas reflexões e nas exortações do Papa Francisco: o ser pastor, a imagem que mais caracteriza os presbíteros, inclusive na compreensão das pessoas.

O presbítero-pastor é chamado, em primeiro lugar, a ser guia para o seu povo, a assumir a responsabilidade de conduzir ao Senhor aqueles que, mediante a Igreja, o próprio Senhor lhe confiou; ele assume o caminho de seus fiéis, não com a lógica fria do "administrador" que cuida dos interesses de sua "empresa", mas com a solicitude do pai que reconduz seus filhos para casa.

Portanto, não se trata de um "poder", a ser exercido com autoridade, ou mesmo com dureza, mas da custódia amorosa daquele tesouro de Deus, que é cada homem.

O presbítero pastor é capaz de comover-se, de participar interiormente da vida de seus fiéis, não limitando-se a colocar-se como "benfeitor", que realiza uma obra boa de modo ascético, impessoal.

Quando um sacerdote se identifica com aquilo que o seu próximo vive naquele momento, torna-se para ele possível servi-lo no modo mais eficaz, anunciando-lhe o rosto de Cristo necessário numa relação verdadeiramente humana.

Para o Cardeal Stella, a terceira dimensão caracterizadora da espiritualidade presbiteral segundo o Papa Francisco é a "profética".

Até aqui procurei sintetizar a visão da espiritualidade presbiteral segundo o Papa Francisco, colhendo alguns dos numerosos elementos indicativos que o Santo Padre propõe continuamente, com sua pregação, seus discursos e, sobretudo, com seu exemplo pessoal, que para quem quiser compreender a sua visão do ministério ordenado é o "texto" principal a ser consultado, observou o purpurado.

Tal espiritualidade presbiteral é uma proposta "positiva", construtiva, que busca livrar os presbíteros do risco da corrupção e do aburguesamento, a fim de que o povo de Deus tenha sempre pastores segundo o coração de Jesus.

De fato, o Santo Padre continua mostrando que os sacerdotes são um dom que Deus faz a sua Igreja e à sociedade no meio da qual atuam como pastores. Daí surgem algumas exigências, necessárias para fazer de modo que este dom não seja desperdiçado, mas, cuidado com alegre perseverança, possa dar plenamente seus frutos.

Em síntese, então, é necessário que todo sacerdote continue se sentido discípulo em caminho por toda a vida, por vezes necessitado de redescobrir e reforçar sua relação com o Senhor, e também, de deixar-se "curar".

Não por acaso o Papa Francisco em seu discurso à plenária da Congregação para o Clero (3 de outubro de 2014) recordou que na estrada de discípulos "por vezes caminhamos velozmente, outras vezes nosso passo é incerto, paramos e podemos inclusive cair, mas permanecendo sempre em caminho".

Na relação com o Senhor, o discípulo, chamado a ser pastor e enviado a evangelizar com espírito profético, é resguardado do tornar-se um "funcionário" do sagrado, um "profissional" da pastoral, talvez preparado na gestão de eventos e iniciativas, mas espiritualmente empobrecido, distante do povo e não mais capaz de contagiar com a alegria do Evangelho.

Obediente a Deus através da Igreja, exigente em primeiro lugar consigo mesmo, para custodiar a vocação e o ministério, instrumento da tenra proximidade de Deus aos homens, consciente de ser sempre, ao mesmo tempo, pastor e discípulo.

Fonte: br.radiovaticana.va

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