Método Missionário

Francesco Pavese *

No dia 7 de outubro celebramos o aniversário de beatificação do Fundador da Família Missionária da Consolata. Naquele domingo de 1990, durante a solene celebração na Praça de São Pedro, o então papa João Paulo II falou à multidão: "neste momento em que começa a fazer parte dos bem-aventurados, José Allamano nos recorda que para permanecermos fiéis à própria vocação cristã é necessário sermos capazes de repartir os dons recebidos com os coirmãos de qualquer raça ou cultura. É necessário anunciar Cristo com coragem e fidelidade a qualquer pessoa que encontrarmos, sobretudo aqueles que ainda não o conhecem". Estas palavras expressam muito bem a identidade do Allamano, o seu programa de vida e de ação.
Exercendo seu ministério em Turim, Allamano foi capaz de viver intensamente a dimensão universal da Igreja. Ele preparava os missionários e missionárias minuciosamente e os encaminhava para a África, acompanhando as atividades pelas informações que lhe eram enviadas através da leitura dos diários que escreviam diariamente. Além de se deixar inspirar pelas informações que recebia dos missionários e das missionárias em campo de trabalho, elaborou um método apostólico inovador naquela época como resposta às urgências que a realidade africana demandava.
O objetivo geral era assim delineado: anunciar o Evangelho e constituir comunidades eclesiais. Para isso os missionários colocavam nas suas metas também a construção de pequenos espaços de encontro (capelas), que acabavam sendo alargados conforme o crescimento do grupo. Seguindo as instruções do Fundador, em cada um desses lugares devia ser colocado um sacrário. Ele dizia: "o sacrário é luzeiro de misericórdia para o povo e fonte de amor para o missionário e para a missionária". As visitas diárias aos povoados eram necessárias para realizar uma ação missionária dinâmica com aprofundamento dos contatos com as pessoas e abrindo sempre mais oportunidades para o anúncio da Boa Nova. Foi a partir do conhecimento das experiências missionárias que Allamano foi estabelecendo os quatro critérios fundamentais de ação que podemos sintetizar aqui.

Primeiro critério
A promoção da pessoa humana é parte integrante da evangelização: "abraçarão uma religião que, além de oferecer a esperança da vida eterna, torna as pessoas mais felizes agora". Queria que os missionários incentivassem todos a melhorar o nível de vida. Este serviço não devia substituir a acolhida da Boa Nova, mas ajudar a descobrir sua importância. Aos missionários atuantes no Quênia que levantavam algumas objeções a esse método, dizia: "tempos atrás, alguns se manifestavam contra nosso método de evangelização como se nos ocupássemos demais com as coisas humanas, colocando em segundo plano a fé. Diziam que nossa missão é pregar e batizar, mas quando viram que a Santa Sé aprovou nosso método, mudaram de ideia e pediram desculpas". Este critério era bem explicitado pelo Allamano, dizendo que se tratava de melhorar o contexto de vida como um todo. As situações de grande probreza deviam ser superadas.

Segundo critério
Allamano considerava fundamental trabalhar comunitariamente. O missionário não deve trabalhar por conta, mas sempre articulado com os outros, porque a missão é obra da Igreja. Em 1910 ele escreveu: "uma característica do trabalho missionário é o testemunho de comunhão. A união da mente e do coração, além de aliviar o cansaço, fortalece a ação e melhora o resultado. Ai dos missionários que, presos às suas ideias, não são capazes de mudar para trabalhar em harmonia com os coirmãos e com os superiores". E acrescentava: "a comunhão entre todos, mesmo que haja uma ou outra ideia que pareça ser melhor, deve permanecer sempre".
Depois de ter aprovado o projeto de trabalho no encontro de todos os missionários em 1904, acrescentou: "não se exclui que novas experiências tragam novas propostas, mas serão estudadas e decididas nos encontros deste ano; por agora é absolutamente necessário que cada um seja fiel às decisões tomadas e não busque alternativas, mesmo a pretexto de fazer melhor ou alegando que os métodos estabelecidos não vão trazer os resultados que se esperam".
Claramente se percebe que Allamano queria que os missionários trabalhassem em conjunto. Ele desejava que a experiência que tinha desenvolvido com seus colaboradores na missão do Santuário se tornasse metodologia missionária. Usava estas expressões: é necessário "trabalhar com espírito de corpo" ou também "com espírito de família".
Mesmo trabalhando em conjunto, ainda não era o suficiente. Era necessário incorporar colaboradores escolhidos entre os membros das pequenas comunidades. De fato, os missionários deram desde o começo muita importância à formação de lideranças leigas e à promoção vocacional. Foi nesta linha que Allamano assumiu a tarefa de patrocinar um centro de formação dizendo: "faço apenas uma exceção a respeito da nossa norma de não construir escolas: é a de preparar a base de futuros catequistas, como se fosse um seminário sui generis, num só lugar, mantendo as pessoas segundo o nível de vida que lhes é próprio e respeitando sua cultura [...]".

Terceiro critério
A inculturação, um tema hoje muito valorizado, mas que naquele tempo não era ainda bem percebido, tem relevância para Allamano. Os missionários estavam habituados a manter o próprio estilo de vida e implantar uma visão de religião. Tudo se fazia com toda a reta intenção e discretamente, enfrentando dificuldades de adaptação. Quando lia o diário das comunidades, Allamano entendia que algumas coisas deveriam mudar nesse campo. Ao grupo do Quênia escreveu: "lendo o diário do padre Borda percebi que houve desentendimento com as lideranças locais (goma); por favor, vamos devagar. Pouco tempo atrás li como o padre Ricci na China tolerava alguns rituais dos falecidos: algum dos companheiros desse jesuíta se opôs e isso deu origem à perseguição". Aos missionários que tinham dificuldade em se relacionar com as lideranças bali escreveu: "procurem africanizar-se bem, para poder enfrentar as outras dificuldades como a adaptação ao clima e à alimentação".

Quarto critério
O último critério se referia ao jeito de se comunicar bem com as pessoas do lugar. Uma das insistências permanentes de Allamano era a de estudar bem as línguas locais. De fato, no regulamento do Instituto está escrito: "é necessário começar a estudar as línguas faladas pelo povo, logo que se entra no Instituto porque esse é um meio indispensável para conseguir uma boa evangelização". E acrescentava: "para que serve o estudo da filosofia, da teologia e da Sagrada Escritura, se não soubermos traduzir tais conhecimentos com as palavras do povo? O resultado do trabalho será pouco se nos sentirmos como superiores a ele. Os africanos não vão entender o que os missionários falam se não falarem como eles".

* Francesco Pavese, imc, é missionário na Itália.

Publicado na edição Nº08 - Outubro 2014 - Revista Missões.

Fonte: Revista Missões

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