Leigos Missionários Além-fronteiras partilham experiências

Jaime C. Patias

Cresce o número de leigos brasileiros em missão além-fronteiras. Diferentemente do que acontece com as religiosas e padres, esse movimento de "saída" nem sempre encontra o apoio que deveria. A grande maioria parte amparado por congregações, alguns enviados por Projetos Regionais, outros por movimentos e novas comunidades.

Preocupada com esta situação, a comissão para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da CNBB promoveu, nos dias 26 a 28 de setembro, o 1º Encontro Nacional de Leigos (as) para a "Missão além-fronteiras". O evento, realizado em parceria com as Pontifícias Obras Missionárias (POM) e as comissões para a Juventude e o Laicato da CNBB, reuniu em Brasília (DF), cerca de 40 pessoas de todo o Brasil. No grupo estavam leigos e leigas que já fizeram experiências missionárias fora do país, outras que sonham em partir pela primeira vez. Publicamos a seguir, alguns dos vários testemunhos que animaram e marcaram o Encontro.

Natural da diocese de Cachoeiro de Itapemirim no Espírito Santo, a leiga missionária Emilene Eustachio integra a coordenação do Centro Cultural Missionário (CCM) em Brasília (DF) e tem muitas histórias para contar. A convite das Irmãs Carmelitas da Divina Providência (CDP), Emilene esteve, entre os anos de 2004 e 2009, em missão no Vicariato Apostólico de Puyo no Equador. "Num primeiro momento fiz parte da Equipe missionária da comunidade das Irmãs no Setor pastoral da via ‘Diez de Agosto y El Triunfo'. Depois trabalhei junto à equipe da Casa da Missão em Puyo", relata a missionária. Contudo, "o trabalho mais forte foi junto aos povos originários, particularmente os Kichwa e Shuar, realizado por meio de visitas às comunidades, encontros de formação, acompanhamento pastoral, promoção social, entre outros. A missão no Vicariato foi um marco em minha vida, um divisor de águas, uma dádiva no caminho do seguimento de Jesus Cristo, um dom totalmente gratuito de um Pai-Mãe amoroso que zela por seus filhos e filhas lhes indicando o caminho a seguir", destacou Emilene ao expressar gratidão pelos ensinamentos que recebeu dos povos originários do Equador.

Desde 1998, o Regional Nordeste 5 da CNBB (Maranhão) desenvolve um Projeto Missionário Além-Fronteiras em Moçambique. A senhora Maria das Graças Souza Martins, esteve naquele país africano entre os anos de 2007 e 2009 integrando a 4ª Equipe enviada à diocese de Lichinga na Região norte. "Ao ser convidada para essa missão meu coração foi tomado de amor pelo povo que iria encontrar. Nossa missão é entre o povo Macua, uma das muitas etnias de Moçambique, realidade desafiadora e fascinante. Conviver e mergulhar no mistério de suas vidas é aprender cada dia uma nova lição que só eles podem nos dar com sua alegria, acolhimento e esperança", recorda Maria das Graças e complementa. "A cada dia acontece o milagre da vida, enquanto vivem a paixão da fome, doenças, desamparo dos seus direitos elementares. Com aquele povo aprendi que, missão não é só executar tarefas, mas é amar".

Outra leiga missionária a partilhar sua experiência foi a maranhense, Rosilene Coelho que também esteve em Moçambique, entre 2003 e 2006, onde ficou conhecida como "mana Rose". Hoje, ele trabalha na sede das POM em Brasília (DF) e relata que "foi uma graça partir, ir ao encontro, compartilhar e encontrar novos irmãos. Partir em missão, significou assumir o ensinamento cristão que aprendi com meus pais: ‘dar do pouco que temos', mesmo que depois isso custe".

Ela recorda que a missão além-fronteiras, compreende alguns pontos inerentes à vocação missionária. "O chamado, o querer, o envio, renúncias, sacrifícios, sofrimento, mas também os ganhos e alegrias". Rose sempre desejou ir à África como missionária enviada pela sua Igreja local. "Partir em nome da Igreja é bonito. A renúncia mais difícil foi ficar longe da minha família que pedia pra não ir, com medo de me perder. Não é fácil. Chegando lá, a grande dificuldade era ver situações extremas de sofrimento e perceber que estava ali apenas lançando a semente. A realidade sociocultural pode ser um grande diferencial, então o equilíbrio emocional é fundamental".

Ela avalia que viver no interior do Maranhão, na pequena cidade de "Nova Iorque" ajudou a preparar a convivência no ambiente da missão na África. "Para mim, a experiência da gratuidade é o ponto mais alto, quando não se espera nada em troca. Experimentei fortemente o ensinamento: ‘há mais alegria em dar do que em receber (At 20, 35)'. É incrível como o povo acolhe, respeita e se faz amigo quando, na simplicidade, nos tornamos próximos. As crianças como são especiais, encantadoras!", enfatiza com emoção.

Rose recorda ainda, a morte repentina de uma colega da Equipe, a Irmã Verônica, vítima de malária e do acidente (no Brasil) que vitimou dom Franco Masserdotti, bispo responsável pelo Projeto do Nordeste 5 (Maranhão) com Moçambique. "Estas foram perdas marcantes, porém, eram pessoas que viviam a espiritualidade missionária. A missão não é sinônimo de morte, mas colocar a vida em disponibilidade total no amor-serviço".

Em outra frente de missão, a jovem catarinense da arquidiocese de Florianópolis, Zenir Gelsleichter, esteve em Moçambique através do apoio das Irmãs Catequistas Franciscanas. Ela regressou ao Brasil em julho deste ano, após passar dois anos na Província e diocese de Tete, mais precisamente em Boroma, onde se encontra a primeira missão jesuítica do país. De sua vivência na missão além-fronteiras, Zenir sublinha "o gesto do povo simples, acolhedor, a maneira como enfrentam e vivem a vida, como superam a dor, a alegria que volta a ressurgir depois do tempo de luto e os faz seguir vivendo, em busca do pão daquele dia". Segundo a jovem, a solidariedade, a partilha e a fé, são essenciais na vida missionária. Ela ficou impressionada com "o riso espontâneo das crianças, a sabedoria dos velhos (as), a juventude que procura novos caminhos, as mulheres que desde a madrugada saem em busca da água ou juntamente com seus maridos e crianças que ainda não vão à escola, partem para a machamba (a roça) a cultivar algo para garantir o alimento. Tudo isto tem falado muito forte em minha vida tornando-se um inesquecível testemunho". E foi exatamente através do testemunho estampado no livro "Partilhas da África" (Paulus, 2008), que Zenir despertou para a missão. A publicação narra a vivência dos padres Camilo Pauletti e Fabiano Dalcim em Moçambique, numa missão mantida há mais de 20 anos pelo Projeto Igrejas Solidárias do Regional Sul 3 da CNBB (Rio Grande do Sul).

Partilharam experiências missionárias ainda, o casal de Belo Horizonte (MG), Elias José e Micheli Freitas que estiveram em Moçambique, a jovem paraibana Teone Pereira dos Santos (Moçambique) e a jovem paranaense Joiciele Cristina da Silva, na Guiné Bissau.

Para organizar de forma mais sistemática o envio de leigos e leigas além-fronteiras foi sugerida a criação de uma Associação Nacional Missionária. Além disso, o grupo pede uma formação permanente que contemple as várias etapas e dimensões da vida dos que desejam partir. O próximo encontro foi marcado para o mês de setembro de 2015, em São Paulo (SP).

Fonte: www.pom.org.br

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