Caminhos do diálogo inter-religioso

Mário de Carli *

Três atitudes são importantes: sermos vizinhos, pacificadores e peregrinos inter-religiosos dos outros.

Vivemos numa sociedade caracterizada por ser multirreligiosa. Dentro do cristianismo, os fiéis pululam de uma igreja para outra. Buscam soluções para seus problemas e pensam que as religiões possam oferecer sempre o "bem-estar físico, psíquico e espiritual" de que tanto almejam. Porém, não podemos nos esquecer de que cada uma delas é chamada a respeitar os fiéis de outras denominações, de aprender e cooperar com eles, ou então de desconsiderar que as outras religiões ocupem no mundo um lugar tão bom quanto o nosso.
Três atitudes são fundamentais aos cristãos e aos fiéis de outras religiões, e convidam as pessoas religiosas a serem:

Vizinhos inter-religiosos dos outros
A diversidade religiosa sempre existiu no mundo. No passado, as diversas religiões permaneciam dentro das suas próprias fronteiras geográficas e culturais. Hoje há muita mudança. Aqueles que acreditam de maneira diferente, que rezam de maneira diferente, que se vestem de maneira diferente não vivem mais do "outro lado do mundo". Vivem na casa ao lado, trabalham conosco e os seus filhos vão à escola junto com os nossos; certamente, poderão se casar com os nossos. Precisamos ser bons vizinhos para todas as horas: festa, doença, alegria, partida. Ou nos momentos de dor, de morte, de separação. Trabalhar por uma vizinhança sadia, limpa e segura para todos é o que a fé cristã necessita para ser expressão de um Deus que não faz acepção de pessoas. Tolerância, de que tanto falamos é permitir que outros sejam religiosos do modo que quiserem.

Pacificadores inter-religiosos com os outros
Jesus nos convida a sermos pacificadores como Ele foi. Mas o passo agora é sermos pacificadores inter-religiosos. É triste constatarmos que ainda se faz violência em nome de Deus ou de alguma religião. Muitas vezes a religião se torna a faísca que acende as tensões políticas, econômicas ou éticas, ou é a lenha que permite que as chamas da guerra ardam com maior intensidade e ferocidade. O rabino Jonathan Sacks, diz que "os fiéis não podem pôr-se de lado quando as pessoas são assassinadas em nome de Deus ou de uma causa sagrada. Se a fé é mobilizada por causa da guerra, deve haver uma contra respostas em nome da paz. Se a religião não faz parte da solução, certamente faz parte do problema".

Peregrinos inter-religiosos com os outros
Há uma realidade que transcende o mistério assim como nos abraça na intimidade de nossos corações. Descobrimos que somos capazes de experimentar e de aprender coisas, a respeito de Deus, de nós mesmos, e do nosso mundo que jamais poderíamos aprender sozinhos. Disse Edward Schillebeeckx, "estamos chegando a aceitar o fato de que há mais verdade em todas as religiões juntas do que em qualquer uma delas separadamente".
O diálogo inter-religioso nos oferece a oportunidade de sermos companheiros peregrinos dos outros credos e crenças, explorando e descobrindo cada vez mais coisas do Mistério que chamamos de Deus. Este é um Mistério que tem muitos nomes, e cujas vivências nenhuma religião poderá abraçar completamente. Precisamos redescobrir Jesus Cristo construindo uma humanidade que saiba viver no respeito pelas diferenças inter-religiosas e na defesa da vida do planeta. 

* Mário de Carli, imc, é missionário em Feira de Santana, Bahia.

Publicado na edição Nº07 - Setembro 2014 - Revista Missões.

Fonte: Revista Missões

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