O encontro de Nossa Senhora da Consolata com Nossa Senhora Guadalupe

Mário de Carli

A Assembleia Continental dos missionários da Consolata, que iniciou no último dia 2, encerrou seus trabalhos na manhã deste sábado, dia 8. Os participantes do encontro em Bogotá - Colômbia, colocaram nas mãos dos superiores um documento contendo opções missionárias e propostas de ação, que farão parte do Projeto Continental de vida e missão. O resultado foi alcançado num esforço coletivo, sempre iluminado por reflexões sobre a espiritualidade e metodologia do Fundador da congregação, o Bem-Aventurado José Allamano.

A quarta e última reflexão, na manhã da sexta-feira, 7, esteve a cargo do padre Ézio Guadalupe Roattino, missionário da Consolata italiano ordenado padre em 1964. Quando chegou à Colômbia, 25 anos atrás trazia em seu nome, Maria. Ao conhecer o acontecimento guadalupano, substituiu o nome de Maria pelo de Guadalupe. De lá para cá, sempre manteve um diálogo entre as duas devoções.

Cabeça encurvada, olhar firme e voz rouca, tendo em mãos alguns apontamentos, Ézio Roattino falou sobre um tema pouco comum: "o encontro da Consolata com a Guadalupe". Antes de iniciar explicou que, o arranjo de rosas sobre a mesa era símbolo da Guadalupana. Publicamos, a seguir, um resumo da sua exposição.

"A Palavra se fez carne e habitou entre nós e vimos sua glória na aparição da Virgem de Guadalupe no Tepeyac (lugar onde Ela apareceu), vimos a glória dela que é a Mãe do Ipalnemohuani (Aquele por quem se vive). Aqui se apresentam as experiências de fé tanto de Nossa Senhora de Guadalupe quanto de Nossa Senhora Consolata. Aparecem as afinidades, as diferenças e as complementariedades entre duas dimensões de espiritualidade. No ano de 1511, a "descoberta" tornou-se uma ‘conquista' e uma ‘invasão destruidora'. Hernán Crotéz, com seu exército e alguns grupos de indígenas da costa, entrou na capital dos aztecas, Tenochtitlán e Tlatelolco, e acabou com a vida de 240.000 guerreiros indígenas. O cenário do Império Azteca foi de grande sofrimento e desolação.

A aparição de Guadalupe
Foi exatamente neste lugar que, em de 1531, Nossa Senhora Guadalupe apareceu a Juan Diego como a sempre Virgem, a Mãe do Deus da Grande Verdade, Téotl (Deus). Juan devia levar a mensagem ao bispo, Juan de Zumarraga para erguer uma ermida no lugar do templo destruído pelos espanhóis. O bispo não o recebeu. Juan regressou para dizer à Virgem que não queria mais continuar com esta tarefa. Ela lhe diz: "Eu sou a tua Mãe misericordiosa, a Senhora do Céu, a mãe de todas as nações desta terra, daqueles que me amam, que falam de mim, que me buscam e confiam. Ali, nesta ermida, eu hei de ouvir seus lamentos e curar todas as suas misérias, penas e dores". Chama carinhosamente seu mensageiro de ‘Digno Juan Diego' e lhe ordena: "é de absoluta necessidade que sejas tu mesmo aquele que vá e fale disto tudo, e que precisamente com tua meditação e ajuda se faça realidade o meu desejo. Entretanto, enquanto Juan regressa à sua casa para descansar e pensar naquilo que a Virgem lhe havia dito, seu tio adoece gravemente. Em busca de médico, no caminho, a Virgem lhe aparece e diz que seu tio está curado. "Qual é o sinal que me dás?" - perguntou Juan. A Virgem lhe diz para ir à montanha e colher rosas. Ele foi e colheu um ramo de rosas, no tempo de inverno. Depois, vai levá-las ao bispo.

As rosas de Tepeyac
Quando o bispo viu as rosas e a preciosa Imagem de Guadalupe pintada na tilma (capa) de Juan Diego, suplicou que o perdoasse por não ter acreditado na vontade da Senhora do Céu. Era o dia 12 de dezembro de 1531. A partir deste local, começou uma nova história, outro caminho. Tepeyac, monte onde apareceu a Virgem de Guadalupe, não será um lugar geográfico e a história do Plano de Deus para a América Abbya Ayala? Significou um novo olhar sobre estes povos: é lugar da manifestação de Deus que liberta, pois os indígenas não são grupos de sobreviventes de um extermínio, são nações que lutam pela sua identidade e liberdade. O rosto e a identidade destes povos foram defendidos por vários bispos, tais como, Juan de Zumarraga, Bartolomeu de Las Casas e recentemente, Leonidas Proaño. Todos estes missionários e bispos foram profetas defendendo a vida e a dignidade dos povos da América.

Os missionários da Consolata na Colômbia
O acontecimento guadalupano, de 12 de dezembro de 1531, coincide com a data da chegada dos missionários da Consolata na Colômbia, em 1947. José Allamano alimentava a espiritualidade da Consolata através da Palavra de Deus, sobretudo do livro de Isaías, o livro da consolação. Pode-se fazer um paralelo entre a Virgem de Guadalupe, que tinha Juan Diego como seu mensageiro e Nossa Senhora da Consolata cujo mensageiro era Allamano. Juan Diego tinha um tio, Bernardino que foi curado pela intercessão da Virgem. Os missionários e missionárias da Consolata têm um tio, São José Cafasso, que dedicou sua vida aos últimos da cidade de Turim, aos encarcerados e aos condenados à morte. Por ocasião da beatificação do seu tio, São José Cafasso, o padre Allamano escreveu uma carta onde expressava emoção e profunda gratidão a Deus. Apontava-o como nosso protetor e exemplo de santidade.

Conclusão
A devoção à Virgem das Dores e das Mercedes nasce devido à escravidão que os Mouros exerciam na Espanha. Nasce também a devoção a Nossa Senhora Consolata vivida nas ações simples das mães que consolam seus filhos carregando suas dores e sofrimentos. O amor do padre José Allamano pela Igreja levou o cardeal Gastaldi a nomeá-lo reitor do Santuário da Consolata onde trabalhou por 46 anos. Allamano abriu um diálogo intercultural entre a Consolata, a Dolorosa que ampara e carrega as dores dos que sofrem e a Virgem das Mercedes, invocando-a para libertar os escravos. Que esta experiência se expanda a todos!

No final, a Assembleia fez uma homenagem a Nossa Senhora. Como gesto simbólico, padre Ézio Guadalupe tomou o arranjo de rosas que estava sobre a mesa e convidou os presentes a repassarem as flores de mão em mão. Enquanto isso, todos catavam em três idiomas: "Ave, ave, ave Maria!... Ewcha, ewacha, ewacha Mama Mlya..."

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Fonte: Revista Missões

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