A Missão na dinâmica da realidade

Jaime C. Patias *

A sociedade brasileira é multiétnica e pluricultural fruto da miscigenação racial e de fenômenos migratórios. Assistimos a uma série de manifestações de pensamento, opções, tendências e comportamentos. Hoje não há uma força hegemônica que aglutine os valores éticos religiosos como havia no passado. A revolução cultural produzida pela modernidade e pós-modernidade provocou efeitos positivos de liberdade, emancipação, democracia, direitos humanos e consciência ecológica. Causou também os fenômenos do relativismo, hedonismo e individualismo afetando instituições sólidas como a família, a escola e as igrejas.

Na economia, o Brasil está em franco crescimento. Ocupa o sexto lugar como potência econômica mundial onde goza de prestígio e amplia as ralações com países de todos os continentes. A era Lula salvou o capitalismo internacional. O "sucesso" econômico baseia-se na estabilidade monetária, exportação de commodities no setor agrícola, pecuário e mineral, avanços tecnológicos e industriais, e nas grandes obras através do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC. Esse "neo desenvolvimentismo" acelera a degradação do meio ambiente e causa violação de direitos fundamentais conquistados pela classe trabalhadora, pequenos agricultores, povos indígenas e afrodescendentes. Verifica-se também a falta de vontade política para implementar reformas estruturais (política, fiscal, agrária, previdenciária). Os movimentos sociais, atrelados ao governo, vão perdendo sua garra de promover os direitos dos mais pobres. Envolvidos em contínuos escândalos, o Congresso e o Senado estão desmoralizados.

O aumento real do salário aqueceu a economia e democratizou o consumo. Os programas sociais do governo beneficiam 50 milhões de pessoas e já tiraram pelo menos, 19 milhões da miséria, mas, ao mesmo tempo, levaram muitos à acomodação. O índice do desemprego no país caiu. Apesar disso, a desigualdade social entre os que ganham mais e os que ganham menos é gritante. A busca acirrada pelo ter exacerba a competitividade, provoca doenças psicossomáticas e eleva o consumo de antidepressivos, além de endividar as famílias. Uma boa parcela da população desiste da luta e entra na marginalidade onde cresce o consumo de drogas e entorpecentes. As políticas demográficas resultaram em uma diminuição drástica no índice de natalidade o que causou, em pouco tempo, um envelhecimento da população.

A corrupção e a violência continuam com índices muito altos. As famílias sem-terra somam aproximadamente cinco milhões, os Povos Indígenas e quilombolas não conseguem garantir seus direitos à terra previsto pela Constituição. Os meios de comunicação são monopólio de poucas famílias ou grupos econômicos e políticos poderosos. Essa concentração manipula a opinião pública, torna a comunicação pouco democrática e não permite avançar com as mudanças necessárias. Grupos mafiosos influentes e algumas quadrilhas circulam pelos poderes do Estado de direito em todos os níveis misturando-se com instituições democráticas de direito.

No campo religioso, a Igreja católica vem perdendo sua hegemonia no percentual de fiéis. Cinquenta anos atrás contava com mais de 90% da população, hoje caiu para 64,6%. É preocupante a ausência dos jovens e a dificuldade de abordá-los. A juventude está nas redes sociais, considerada como uma nova "ambiência" ou um diferente espaço de relações onde a Igreja ainda não aprendeu a "pescar". A diversificação da sociedade, a modernização e o acesso a novas tecnologias fazem com que o brasileiro tenha mais liberdade de se declarar não católico, indiferente ou sem religião. Os evangélicos de diversas expressões ocupam sempre mais espaço na mídia e na política, mas o triunfalismo religioso pentecostal de tendência mercadológica e da teologia da prosperidade começa a perder força conforme a população supera sua consciência ingênua. A Igreja Universal (IUR) perdeu 10% de seus fiéis. Cresce o desejo de voltar aos textos bíblicos.

Em certos setores da Igreja católica, há sinais de retrocessos, com tendências conservadoras que dificultam e questionam até mesmo os avanços do Concílio Vaticano II. Isso é visível na formação do clero, nas orientações pastorais de algumas dioceses, em comunidades e movimentos de tendências intimistas e em setores da mídia católica. As Comunidades Eclesiais de Base - CEBs e Pastorais sociais seguem vivas e atuantes, porém, sofrem investidas constantes de movimentos conservadores. O projeto eclesial e pastoral das CEBs se enfraqueceu e a linguagem da Teologia da Libertação embora tenha deixado sua marca esta perdendo incidência. Continua a desproporção entre as necessidades urgentes de Evangelização e o número e qualidade de evangelizadores.

Animada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB e por uma Vida Religiosa numerosa e ativa, (50 mil religiosos), apesar dos desafios, a Igreja segue a sua Missão contando com a dedicação e a Fé dos leigos e leigas que pedem mais espaço. As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, (2011- 2015) inspiradas no Documento de Aparecida (2007) destacam urgências para colocar a Igreja em estado permanente de missão. De certa forma, a Igreja recolocou a Missão no centro da sua vida impulsionada pelo Espírito de Deus presente e atuante no meio do povo. As Pontifícias Obras Missionárias - POM e vários organismos estão empenhados na reflexão, animação e articulação para que a Igreja assuma com maior empenho seu compromisso com a Missão ad intra, inter gentes e ad gentes.

Inseridos nessa realidade somos desafiados a fazer opções e definir propostas operativas para tornar visível a Missão segundo o desejo e o mandato do Mestre.

* Jaime Carlos Patias, IMC, é Secretário Nacional da Pontifícia Obra União Missionária e assessor de imprensa das POM.

Fonte: www.pom.org.br

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