Guarani de Ypo??i e aliados exigem justiça e terra

Egon Heck *

Após mais de uma semana da violência perpetrada por pistoleiros contra a comunidade em seu tekoha, os dois professores, Rolindo e Genilvado continuam desaparecidos. A população Guarani de Pirajuí e região continua as buscas. As aulas de mais de 500 alunos da área foram suspensas em solidariedade aos professores desaparecidos. Os movimentos sociais e entidades internacionais cobram providencias, demarcação da terra e justiça.

Os pais dos dois professores fazem um dramático apelo em carta enviada ao o Procurador Marco Antonio do Ministério Público Federal, em Dourados e Margarida Nicoletti, administradora da Funai Cone Sul. Eis o teor da carta, na íntegra (ipsis literis)

"Nós da comunidade da aldeia Ypo'i, estamos muito desesperado pelo desaparecimento dos nossos dois professores que não desapareceu. queremos que as autoridades desses órgãos competentes nos ajude imediatamente.

Estamos muito cansados CHEGA! BASTA!
Pedimos com sincero apoio aos senhores autoridades, pois nos procuramos já em todo canto pedimos aos senhores uma intervenção junto com as autoridades Paraguaias já que a fronteira é muito próxima.

Que isso seja urgente e imediato. Nós dependemos muito do apoio desse órgão do ministério publico.
Como garante as leis e da constituição federal.
Enquanto não encontramos nossos patrícios professores iremos estar na busca, com isso todas as crianças da aldeia Pirajuí e demais áreas irão sofrer consequencias referentes ao ano letivo, por essa razão solicitamos que nos ajudem a encontrar nosso parente.

Desde já agradecemos,
Pais das vitimas, ñanderu, ñadesy, professores e apoiadores todos juntos solicita SOS.

Pai do professor Genivaldo Vera, Bernardo Vera e sua mãe Francisca Gonsales
Pai do professor Rolindo Vera, Catalino Vera e sua mãe Tila Ximenes"

A entidade internacional de direitos humanos FIAN, enviou carta ao presidente Lula na qual lembram os compromissos assumidos pelo Brasil no âmbito internacional e solicitam as seguintes providências: "O Brasil como Estado Parte de Pactos Internacionais de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, do Protocolo de San Salvador e do Convênio 169da OIT, assumiu compromissos no âmbito do direito internacional de proteger e respeitar os direitos à terra, à alimentação, à água e em especial à vida das famílias indígenas. Portanto solicito respeitosamente que Vossas Excelências adotem medidas garantindo que:

A PoliciaFederal envie todos os reforços necessários para apuração do desaparecimento dos dois professores Guarani e da violência contra os outros 16 índios da aldeia de Pirajuí. Da mesma forma, garanta a segurança aos Guarani-Kaiowás contra as práticas de violência na luta pelo seu território, por parte dos latifundiários da região. O mesmo cuidado e segurança deve ser estendido aos Grupos de Trabalho da FUNAI que tem por objetivo o reconhecimento das terras indígenas do MS e que vem constantemente sofrendo intimidações e ameaças de fazendeiros e políticos do MS.

A FUNAI faça,com extrema urgência, a identificação e delimitação de todas as terras Indígenas do Mato Grosso do Sul conforme previsto no TAC, referente ao Procedimento Administrativo MPF/RPM/DRS/MS 1.21.001000065/2007-44.

As terras,após o processo de identificação e delimitação, sejam imediatamente homologadas pelo Ministério da Justiça.

Por favor, mantenha-me informado em relação às medidas que forem tomadas."

Os movimentos sociais, organizações indígenas, entidades indigenistas e populares também manifestaram sua repulsa às violências e a dramática espera por informações dos dois professores que continuam desaparecidos, e, com a solidariedade também pedem urgentes medidas, especialmente com relação à identificação e demarcação das terras Kaiowá Guarani. Iniciam o texto narrando os fatos de crueldade que ganharam o mundo.

"Diante de mais essa brutalidade contra um grupo Guarani, que, apenas quer um espaço para viver em paz com sua comunidade, produzir seus alimentos, fazer suas festas e celebrações, reverenciar seus antepassados e talvez fazer os espíritos das florestas voltarem, é que nós, movimentos sociais vimos a público externarmos nosso repúdio à violência e assumirmos o compromisso solidário na sua luta pela terra.

Como entidades da coordenação dos movimentos sociais deste estado, queremos também manifestar nosso repúdio às ações e declarações do governo de MS contra a demarcação das terras indígenas, bem como das lamentáveis ações do agronegócio e suas organizações que estão procurando inviabilizar o reconhecimento das terras dos Kaiowá Guarani e Terena.

Com nosso gesto, queremos nos unir a milhares de pessoas que no Mato Grosso do Sul, no Brasil e no mundo, prestam seu apoio solidário ao povo Guarani e exigem a imediata demarcação de todas as terras desse povo, bem como as terras dos quilombolas e sem terra.

Exigimos apuração ágil dos fatos, julgamento e punição dos responsáveis por essas violências, além da reparação da dívida histórica através da imediata identificação e demarcação de todas as terras Kaiowá Guarani." (Carta aberta dos Movimentos Sociais do Mato Grosso do Sul)

Enquanto nos restar a capacidade da indignação a dignidade e luta continuam.

* Egon Heck, assessor do Cimi MS.

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