De Mussolini a Bolsonaro: trabalhando com os porões da alma humana

Diante da crise que se agrava, sem ter saída para propor ao povo brasileiro, Bolsonaro aposta no caos e na ditadura pessoal.

Por Roberto Malvezzi (Gogó)*

- Io non ho creato il fascismo, l'ho tratto dall'inconscio degli italiani. Se non fosse stato così, non mi avrebbero seguito per venti anni (Mussolini) -

Em livre tradução pessoal: “não criei o fascismo, tirei-o do inconsciente dos italianos. Se não fosse assim, eles não teriam me seguido por vinte anos”.

Há um belo filme italiano – Estou de Volta – que diz respeito à ressurreição de Mussolini na Itália nos dias atuais. É uma metáfora do retorno do fascismo – e seus fascínios – nos dias de hoje na Itália carregada de negros, egípcios, latinos, do povo de saco cheio de tantos partidos, da classe política, da saudades de um comandante autoritário, enfim, de Benito Mussolini. Feito em tom de comédia e farsa, vai fundo na alma italiana saudosista de um ditador.

bozo1Lá pelo meio do filme aparecem as frases acima citadas, extraída da última entrevista que Mussolini concedeu a um jornalista fascista, link citado abaixo. E essa frase ajuda entender o Brasil atual de Jair Messias Bolsonaro.

Esses dias a burguesia nacional, em seus carros caros e fechados, tem ido às ruas para pedir a volta das atividades econômicas em plena pandemia de coronavírus, mas não só, também pedir a ditadura com Bolsonaro no comando, o fechamento do Congresso e do STF. Não é muita gente, mas são insistentes e claramente amantes de ditadores e ditaduras.

A velha mídia, que tanto favoreceu a ascensão de Bolsonaro, agora está com um pé atrás, afinal, nas ditaduras sobra também para os meios de comunicação e seus jornalistas, assim como com o AI-5 sobrou para o Congresso e o STF. Quando as ditaduras se fecham, ninguém está mais seguro.

Não é o povo simples, base do neopentecostalismo e do senso comum, avesso aos pobres, índios, negros, etc., que está nas ruas. É a burguesia nacional. E essa sabe o que quer, afinal, não é tão simples saber o que significou o AI-5. Portanto, tem estratégia por detrás dessas manifestações.

As pesquisas são absolutamente contraditórias, como a última do Datafolha. Parece que nem os pesquisadores, e muito menos os pesquisados, perceberam a contradição das perguntas e respostas. Afinal, se 64% eram favoráveis à permanência de Mandetta, se 79% são favoráveis à quarentena, como é que 52% são favoráveis à atuação do Presidente na pandemia, se é exatamente ele que demitiu Mandetta e é a voz contrária à quarentena? Não há lógica entre uma pergunta e outra, entre uma resposta e outra. Diante da crise que se agrava, sem ter saída para propor ao povo brasileiro, Bolsonaro aposta no caos e na ditadura pessoal.

Ainda com forte apoio popular a Bolsonaro, o abismo brasileiro é um poço onde o fundo é sempre mais em baixo. Não temos 250 andares para descer, como está no filme o “O Poço”, mas um abismo sem fim.

Não sabemos o quanto esse pesadelo vai durar. Mas, Bolsonaro não inventou o bolsonarismo, ele apenas o extraiu do inconsciente do povo brasileiro. Esse é o nosso abismo. Por ter apoio no inconsciente brasileiro, esse pesadelo pode durar pouco, pode durar vinte anos – como muito sagazmente interpretou Mussolini -, ou pode durar muito mais.

Memorie di um dittatore: https://donnie86dc.wordpress.com/2009/10/11/memorie-di-un-dittatore/

*Roberto Malvezzi (Gogó) é agente da Comissão Pastoral da Terra.

Deixe uma resposta

treze − dez =