Brasileiros iniciam o Ano Nacional Mariano em Roma

Um ano de fortalecimento do nosso amor para com a Mãe de Jesus e nossa Mãe Aparecida.

Por Arlindo Pereira Dias*

Os brasileiros e brasileiras residentes em Roma abriram ontem, dia 19 de fevereiro, suas celebrações do Ano Nacional Mariano. Cerca de 90 pessoas, entre leigos e religiosos realizaram um dia de retiro, no Colégio Verbo Divino, em clima de oração e muito entusiasmo. A leiga Andrela Gnata, do Conselho Pastoral da Comunidade Nossa Senhora Aparecida Missão Latino-americana e da Comissão Organizadora, explica que “parecia oportuno dar uma possibilidade às realidades brasileiras em Roma, de viver aqui o Ano Mariano proposto pela CNBB, em comunhão com os preparativos no Brasil, procurando articular e unir a caminhada da Comunidade dos brasileiros, nos ambientes onde vivem”. Para ela houve “uma resposta extremamente positiva dos brasileiros em Roma ao grande amor por Nossa Senhora Aparecida, num testemunho de fé e partilha, que nos uniu durante a jornada”.

ano marianoroma2O tema do dia, apresentado em forma dinâmica e participativa, foi baseado no discurso do papa Francisco ao Episcopado brasileiro no dia 27 de julho de 2013. “No início do evento que é Aparecida, está a busca dos pescadores pobres. Tanta fome e poucos recursos. As pessoas sempre precisam de pão”, afirma o papa. Para Francisco a grande lição de Aparecida é a simplicidade. “Sem a gramática da simplicidade, a Igreja se priva das condições que tornam possível «pescar» Deus nas águas profundas do seu Mistério”. Situando o encontro da imagem na realidade concreta vivida pelo Brasil na época colonial, o papa afirma que “Aparecida surgiu em um lugar de cruzamento. A estrada que ligava Rio, a capital, com São Paulo, a província empreendedora que estava nascendo, e Minas Gerais, as minas muito cobiçadas pelas cortes europeias: uma encruzilhada do Brasil colonial. Deus aparece nos cruzamentos”. E conclui lançando um desafio aos católicos em tempos de crise: “A Igreja no Brasil não pode esquecer esta vocação inscrita em si mesma desde a sua primeira respiração: ser capaz de sístole e diástole, de recolher e divulgar”.

Na segunda parte da manhã, os participantes foram distribuídos em grupos para preparar os eventos que acontecerão ao longo do ano em Roma: caminhada pelas ruas de Roma rezando “As dores de Maria” e celebração de Dom Oscar Romero (26 de março), animada pelas Religiosas e Religiosos Brasileiros em Roma e a Missão Latino-americana; momento de comunhão com a comunidade portuguesa pelos 100 anos das aparições de Fátima (maio); reza do terço no monumento a Nossa Senhora Aparecida nos jardins do Vaticano (junho); momento Mariano preparado pela Comunidade Brasileira Santa Maria Madalena in Campo Marzio (setembro); celebração de Nossa Senhora Aparecida (outubro), celebração na paroquia Nossa Senhora de Guadalupe com os Legionários de Cristo (novembro); encerramento do ano com a celebração de Nossa Senhora Aparecida no dia 12 de dezembro, na Basílica de São Pedro. O grupo expressou também o seu sonho de se encontrar um modo de celebrar este momento importante para o Brasil com o papa Francisco.

Para o padre Marcondes Martins Barbosa, da diocese de Curitiba e representante do Colégio Pio Brasileiro na Comissão, o domingo foi “um dia que trouxe muita esperança de que é possível uma Igreja em saída e em estado permanente de missão que experimenta as alegrias e sofrimentos das pessoas e que anuncia a alegria do Evangelho”. Ir. Maria Vera Loss, superiora geral das irmãs de Santa Catarina de Alexandria definiu o dia como o “encontro de brasileiros que se empenham em viver a fé cristã aqui em Roma, com espírito de Igreja, comunitário, marcado pelo excelente acolhimento das diferenças entre nós”. Segundo ela houve uma “boa programação e excelente coordenação. Encontramo-nos, ajudamo-nos a olhar a realidade aqui e ‘lá’ e a ouvir, de dentro dela, a Palavra que Deus está a nos dizer. Rezamos e nos comprometemos a gestos concretos”. Ir. Vera sonha que os brasileiros em Roma sejam “presença materna e fraterna onde se encontram”.

O Cardeal João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para as Religiosas e Religiosos, presidiu a Eucaristia no fim do dia. A missa teve início com uma procissão que partiu do monumento a Nossa Senhora no jardim da casa geral dos Missionários Verbitas. No altar dedicado a Maria, a irmã Scalabriniana Terezinha Santin tocou a todos com o testemunho de presença de sua comunidade entre os imigrantes em Siracusa, no sul da Itália. Na homilia, Dom João Aviz, referindo-se à partilha da irmã, disse que “essa situação de muitos que perdem a própria pátria, o próprio povo, são empurrados para fora, são jogados no perigo (e, para alguns, se morrerem seria até melhor, pois seria um problema a menos) está entre aquelas realidades que o papa nos pede tanto para ir ao encontro. O que nós precisamos é justamente este contato direto com Jesus que sofre. Poder dizer-lhes: você tem aqui um irmão e uma irmã!”. “Esta santidade, construída na nossa consagração, não foi feita para que adquiramos segurança pessoal, estabilidade, mas para poder partir. Tudo o mais que não se identifique com o Evangelho de Jesus cairá”, disse o cardeal.

Antes de terminar a Eucaristia, o animador da liturgia, o Dehoniano padre Victor Oliveira criou a atmosfera para um momento de grande ternura, fazendo com que imagem passasse de mão em mão e cada um expressasse de forma individual o seu afeto pela Mãe de Jesus. No momento de conclusão, a imagem peregrina, trazida pelo reitor do Colégio Pio Brasileiro padre Geraldo Maia, iniciou sua peregrinação pelas comunidades religiosas de Roma. As Irmãs da Imaculada Conceição de Nossa Senhora de Lourdes (Lurdinas) a receberam com grande alegria na pessoa da superiora geral Ir. Loiri Lazarotto.

“Com Maria ao encontro dos mais necessitados”
Entrevista com o padre Marcondes Martins Barbosa, diocesano de Curitiba e representante do Colégio Pio Brasileiro na Comissão Organizadora.

O que achou do encontro?
Este encontro para mim foi uma grande manifestação do carinho de Deus para com os seus filhos e filhas brasileiros residentes em Roma por diversos motivos. Um dia que trouxe muita esperança de que é possível uma Igreja em saída e em estado permanente de missão que experimenta as alegrias e sofrimentos das pessoas e que anuncia a alegria do Evangelho. Experimentei fortemente a presença da Mãe Aparecida que nos convoca a escutar os diversos gritos do nosso Brasil e também os gritos dos brasileiros que aqui residem, sobretudo os mais esquecidos e explorados. Foi um dia de profunda espiritualidade encarnada, de comunhão, partilha, construção, acolhimento, alegria, escuta, um dia ricamente vivido por todos nós. Um dia que iniciamos um “momento novo”, um tempo de graça.

O que espera deste Ano Nacional Mariano celebrado em Roma?
Primeiramente que sejamos testemunhas do Evangelho, de fé, de esperança e de profunda comunhão e unidade entre nós brasileiros e brasileiras; desejo de que possamos caminhar juntos e discernindo a vontade de Deus neste tempo tão difícil que atinge a humanidade. Espero também que este ano mariano seja um sinal concreto de uma conversão pastoral e missionária e nos impulsione a sairmos, e com Maria ir ao encontro dos mais necessitados. Um ano de fortalecimento do nosso amor para com a Mãe de Jesus e nossa Mãe Aparecida.

*Missionário do Verbo Divino, membro da coordenação dos Religiosos Brasileiros em Roma (RBR) e da Comissão Organizadora.

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