Campanha internacional defende acesso de divorciados e recasados à comunhão católica

Por Cristina Fontenele

Com a proximidade do Sínodo da Família 2015, a ser realizado de 04 a 25 de outubro deste ano, no Vaticano, 20 teólogos/as espanhóis lançam uma campanhana plataforma Change.org para recolher assinaturas pedindo às "pessoas de boa vontade" o apoio ao acesso dos divorciados e dos civilmente recasados à comunhão da Igreja Católica. A ação se contrapõe a uma outra, lançada por um grupo ultraconservador, que já reuniu cerca de 500 mil assinaturas contra o acesso de divorciados e de recasados à "sagrada" comunhão, e contra a união civil/religiosa de homossexuais, que seria "contrária às leis divina e natural".

"Notamos, com angústia, como o modelo casto e fecundo da família ensinado pelo Evangelho está em risco. Este modelo de família é a única tocha capaz de guiar milhões de fiéis bombardeados ao longo de décadas por uma revolução sexual e por sua propaganda hedonista", diz o grupo de católicos e de associações autodenominados de "pró-vida". Segundo esta corrente, a Igreja Católica parece ter aberto uma "brecha" que desorienta os/as fiéis e relativiza os ensinamentos de Jesus Cristo.

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Para os teólogos liberais, aplicar as palavras de Jesus distanciadas do seu contexto histórico pode distorcer seus ensinamentos.

Os/as teólogos/as que assinam a campanha de apoio aos divorciados e recasados acreditam que setores rigorosos têm pressionado o Sínodo e o Vaticano, mas seria o momento do Papa Francisco ouvir "o clamor do povo de Deus", pois admitir a comunhão aos divorciados é ser fiel ao espírito do Evangelho e não à letra.

Em carta ao Sumo Pontífice, os/as teólogos/as defendem que a prudência pastoral exige uma mudança de postura e que uma "disciplina de misericórdia" não equivaleria a um "relaxamento moral". "Não se conhecia, no tempo de Jesus, a situação de um matrimônio (seja pela culpa dos dois ou por uma incompatibilidade de características, antes não descoberta), que falhou em seu projeto de parceria. Dada a situação da mulher em relação ao marido, na Palestina do século I, esta hipótese era impensável. E aplicar as palavras de Jesus em outro contexto diferente de sua época, na qual não havia abandono de uma das partes, mas o fracasso dos dois, pode distorcer essas palavras".

O tema do Sínodo 2015 será "A vocação e a missão da família na Igreja, no mundo contemporâneo". Em dezembro do ano passado, o Vaticano apresentou o documento preparatório (‘lineamenta'), no qual propõe 46 perguntas sobre se a descrição da realidade da família corresponde ao que se encontra na Igreja e na sociedade de hoje.

O documento foi enviado às Conferências Episcopais, aos responsáveis pelos Institutos Religiosos e aos organismos da Cúria Romana, para que discutam e registrem suas contribuições. As respostas sobre o contexto e os desafios sobre a família deveriam ter sido enviadas à Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos até abril último. O material será utilizado na elaboração do documento de trabalho (Instrumentum Laboris) da 14ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos.
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A seguir algumas das perguntas propostas na ‘lineamenta':

·Em que proporção e com que meios a Pastoral Familiar ordinária se dirige aos que estão afastados?

·Como ajudar a compreender que ninguém é excluído da misericórdia de Deus e como exprimir esta verdade na ação pastoral da Igreja com as famílias, especialmente as feridas e frágeis?

·O que se pode fazer para que, nas várias formas de união - em que é possível encontrar valores humanos -, o homem e a mulher descubram o respeito, a confiança e o encorajamento a crescer no bem por parte da Igreja, e sejam ajudados a alcançar a plenitude do matrimônio cristão?

·A Pastoral Sacramental em relação aos divorciados recasados precisa de um ulterior aprofundamento, avaliando, inclusive, a prática ortodoxa e tendo presente "a distinção entre situação objetiva de pecado e circunstâncias atenuantes" (n. 52). Quais as perspectivas flexibilização? Quais os passos possíveis? Que sugestões para superar formas de impedimentos indevidas ou desnecessárias?

·A normativa atual permite dar respostas válidas aos desafios lançados pelos matrimônios mistos e pelos interconfessionais? É preciso levar em conta outros elementos?

·Como dirige a comunidade cristã a sua atenção pastoral às famílias que têm no seu seio pessoas com orientação homossexual? Evitando toda a injusta discriminação, como tratar à luz do Evangelho pessoas em tais situações? Como propor-lhes as exigências da vontade de Deus sobre a sua situação?

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