Awa Guajá em Brasília - A escola que queremos

Egon Heck *

Apesar da desintrusão da Terra Indígena Awa, no início do ano passado, continua a pressão de políticos, fazendeiros e madeireiros. Como exemplo citaram a estrada de Paragominas(PA) que vai até Zé Doca no Maranhão e que atravessa a terra indígena. Essa situação requer uma vigilância permanente, para impedir novamente invasões. Existe muita pressão de reinvasão especialmente na região do igarapé Mão de Onça, onde vivem vários grupos de índios isolados. Há pouco tempo foi vista uma família de isoladospróximo à aldeia Juriti.

Três lideranças do povo Awa do Maranhão estão em Brasília para falar das ameaças de reinvasão e da escola que querem para se defender dos (brancos-não indígenas). Apesar da complexidade da questão e da ambígua relação do Estado brasileiro e sua burocracia com relação à educação escolar indígena, existe aí desenvolvida uma experiência de 15 anos por uma equipe do Cimi, inspirada nos ensinamentos de Paulo Freire, em BartomeuMeliá, entre outros, que inspiram processos de educação escolar indígena,autônomos e de descolonização. A aldeia Awa está exigindo a construção de uma escola onde possam desenvolver a educação escolar que querem e que lentamente foi sendo construída em mais de uma década de convivência, e apoio à comunidade. Querem que a escola seja reconhecida como escola comunitária. Com seu Plano Político Pedagógico, baseado em suas pedagogias e valores educativos, orientada pelo tempo e pedagogia Awa. É esse tipo de escola que os Awa querem que seja reconhecida e apoiada, financeiramente pelo MEC.

Amiri, MajakatÓ¯e Warixa'a, com assessoria do Cimi, apesar de certa dificuldade de entender e se expressarem português , tiveram reunião no CNE pela manhã e reunião na Funai à tarde.

As reuniões/debates tiveram início em 2013, no reunião no Ministério Público Federal (Ma), com a presença de representantes de várias instituições, dentre as quais o Conselho Estadual de Educação do Maranhão, Universidade Federal do Maranhão, Ministério Público de São Luiz e da 6ª Câmara, Comissão de Direitos Humanos da OAB, FUNAI,MEC e Cimi.

Deixaram claro que vieram para exigir o reconhecimento e apoio à escola como eles vem fazendo e como eles querem levar adiante. Mas queremuma escola que ajude os Awa a se defender contra as permanentes ameaças, sem perder sua cultura. No debate ficou claro que não querem a escola do invasor, mas uma escola que possa fortalecer sua cultura para um enfrentamento tão desigual.

"Não viemos passear em Brasília. Viemos atrás de escola. Funai diz que Awa vai perder cultura. Nos queremos aprender dois língua: materna e português. Queremos nos defender", expressou uma das lideranças. Existe um debate desafiadora ser continuado e um emaranhado de empecilhos burocráticos a serem superados. Com essa viagem a Brasília esperam desobstruir alguns canais que lhes permitam, dentro dos direitos constitucionais conquistados, avançar no processo que eles entendem melhor para sua auto defesa e autonomia.

Esperam que o empenhoe apoio manifestado pelos representantes do governo se transforme em realidade, ou seja, a construção da escola como desejam.

Os Awa e os Kaiowá Guarani

Os Awa lembram dos seus parentes Kaiowá Guarani do Mato Grosso do Sul. Há algum tempofizeram uma visita a esse povo. Ficaram impressionados com a situação de sofrimento, falta de terra e invasões das terras indígenas. Atribuíram essa lamentável situação à falta de flechas. E aos acampamentos visitados entregaram, simbolicamente,um arco com várias flechas. Estas são até hoje cuidadosamente guardadas e levadas para reuniões, encontros e AtyGuasu.

Na semana passada mais uma Comissão de parlamentares, articulada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara, esteve visitando os Kaiowá Guarani, na fronteira com o Paraguai. Viram, ouviram, se emocionaram. Criaram expectativas. Prometeram apoio a seus direitos. Fizeram contundente pronunciamento na Câmara dos deputados. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Paulo Pimentel, externou sua indignação com o que viu e exigiu, por parte do governofederal, medidas urgentes para atacar as causas de tanta violência, assassinatos, suicídios, fome,genocídio, ou seja, a urgente regularização e demarcação das terras indígenas desse povo.

Que este não seja apenas mais um relatório. Não é a falta de conhecimento da realidade que permite que se chegue a essa situação brutal. É a conjunção dos três poderes da república que vem permitindo e estimulando esse etnocídio e extermínio.

* Egon Heck - Cimi Secretariado Nacional - Brasília, 12 de junho de 2015

Fonte: Revista Missões

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