A perversidade na publicidade de bebidas alcoólicas

Jaime C. Patias *

O álcool mata 320 mil jovens todos os anos e está entre as principais causas de adoecimento e morte no Brasil, segundo a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais de 60 tipos de doenças estão ligados ao consumo de bebidas alcoólicas. Além disso, a maioria dos jovens revela que o álcool foi a porta de entrada para o uso de drogas mais pesadas.

Diante dessa tragédia, cabe perguntar por que ainda é permitido e necessário fazer publicidade de cerveja e outras bebidas alcoólicas na televisão e no rádio. Se a razão disso é ganhar dinheiro, então a pergunta é: lucrar a que preço? É uma perversidade absurda ver telejornais noticiando tragédias decorrentes do consumo de drogas e álcool e, no intervalo comercial, faturar com publicidade de cerveja e energéticos. Alimenta a violência ao mesmo tempo em que pretende combatê-la. Incentiva a bebedeira e faz campanha pela redução da idade de responsabilização penal de 18 anos para 16 anos. Chega a ser um comportamento esquizofrênico.

Nas peças publicitárias o apelo "beba com moderação" é o que de mais cínico existe nessa irresponsabilidade. Embora não se duvide da capacidade do ser humano em fazer suas escolhas de forma consciente e madura, pretender que com esse alerta as pessoas bebam com equilíbrio é muita ingenuidade. O que realmente falta é informação e esclarecimento.

Poucos sabem que, segundo especialistas, o simples fato de ultrapassar os 30 gramas de álcool no sangue (o equivalente a três copos de chope), já causa danos a vários órgãos, como fígado, pâncreas, estômago, coração e cérebro. O álcool mata as células do fígado e mata neurônios.

Na Sociedade do Espetáculo estamos cansados de ver estrelas famosas, apresentadas como modelos de comportamento para a venda de produtos, sofrerem um fim trágico. Apenas para citar uma, no ano de 2011, uma das mais talentosas cantoras da atualidade, a britânica Amy Winehouse foi mais uma vítima. Segundo o laudo a jovem morreu por causa do abuso do álcool e drogas. Querendo ou não, os artistas também são referência para muitos jovens e, nesse caso, uma referência negativa. No entanto, na mídia, são apresentadas com modelos de vida e ocupam páginas dos famosos. Que dizer das telenovelas e do BBB?

Além das doenças, as bebidas alcoólicas também fazem vítimas na combinação "bebida x direção". Estima-se que 75% das causas de mortes no trânsito estejam, de forma direta ou indireta, ligadas ao consumo de bebidas alcoólicas. Foi positivo endurecer a pena de quem é flagrado dirigindo sob os efeitos de álcool ou droga.
Já que criticam a inércia dos políticos e legisladores, está na hora de os grandes meios de comunicação, em nome da ética e como gesto de responsabilidade social, recusarem voluntariamente de fazer publicidade de bebidas alcoólicas. Lembrando que os meios de comunicação são concessões públicas e devem exercer uma função social. Com um pouco de bom senso, abrindo mão do lucro, não precisaria de uma lei para tornar drogas lícitas em drogas ilícitas. A publicidade de tabaco foi proibida e, em nome da saúde pública, é hora de contrapor o lobby das cervejarias com rigor e firmeza.

* Jaime C. Patias, imc, mestre em comunicação e membro do Grupo de Pesquisa Comunicação na Sociedade do Espetáculo.

Fonte: www.pom.org.br

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