Perante uma guerra religiosa, o papa fica calado ou simplesmente balbucia

Sandro magister

Na opinião ou convicção do papa Francisco, sobre o ataque do islamismo radical, "precisamos ser acolhedores e não promover conflitos". As várias correntes reformadoras da religião islâmica se sentem enfraquecidas.

Daqui a poucos dias o papa Francisco viajará para a Turquia, no âmbito daquela nova guerra global "fragmentada", mas está mexendo com o mundo inteiro.

O novo califado islâmico que se instalou nas fronteiras da Turquia, da Síria e do Iraque está pulverizando as antigas fronteiras geográficas e quer desenhar um rosto mundial. "A marcha triunfante dos mujaheddin vai chegar a Roma", afirmou o grande chefe do movimento, o califa Abu Bakr al Baghdadi.

Já se associaram e prometeram fidelidade grupos do Egito, da Arábia Saudita, do Yemen, da Argélia, da Líbia que não está assim tão longe das fronteiras italianas. Na Nigéria e nos Camarões, o Boko Haram se organizou e se expandiu pela África Subsaariana. Na Europa e nos Estados Unidos surgem apoiadores e brotam também novos integrantes do grupo.

Sobre a bandeira preta do novo estado islâmico está escrito o lema: "Não existe outro Deus fora de Allah e Maomé é o seu profeta".

Entre as muitas vítimas causadas pelas mãos deste islã puritano estão os cristãos. Eles se definem como a única e verdadeira religião e querem transformar em deserto também os muçulmanos considerados os maiores traidores da identidade islâmica. Nesse visual estão colocados como heresia: os xiitas do Irã, o modernismo aliciante da Turquia que tem como referência o Kemal Ataturk, o mausoléu onde o papa começará sua visita.

Em Raqqa, a capital atual do califado, situada na Síria, de onde desapareceu o padre jesuíta Paolo Dall'Oglio, já são pouquíssimas as famílias cristãs que sobrevivem, das cerca de 1500 que aí viviam. O novo Estado Islâmico impõe a lei jizya e exige um imposto de 535 dólares por ano, um imposto despropositado e que se não for pago, o cidadão perde a casa e outros bens.

Em Mosul já não funciona nenhuma igreja, um cenário historicamente inédito.

É impossível não enxergar aqui sinais de uma guerra religiosa, com conotação de extremismo, em nome de Allah. Também não se pode esconder a matriz islâmica desta violência teológica sem fronteiras. Essa leitura já foi apresentada pela revista dos jesuítas, La Civiltà Cattolica, embora seu diretor, o jesuíta Antonio Spadaro, tenha se manifestado como defensor fiel do papa Francisco.

Os bispos das dioceses do Oriente Médio solicitam que o mundo intervenha eficazmente com armas, mas ninguém arrisca. Em Roma o cardeal, Jean-Louis Tauran, publica a notícia mais pormenorizada sobre a situação das atrocidades praticadas pelo EI e afirma que não existe mais nenhuma brecha para diálogo com aqueles muçulmanos que não querem abandonar a violência.

Mas, quando o secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin, falou em Nova Iorque da tribuna da ONU, no dia 29 de setembro, fez alusão de que as palavras "islã" e "muçulmanos" se tornaram uma espécie de tabu, é como se quisesse negar esse conflito de civilização que está à vista de todos.

É claro que Parolin também fala no sentido de protesto contra "a apatia irresponsável" revelada pelo Palácio de Vidro. Na verdade é à ONU que o papa Francisco remete a responsabilidade da decisão legítima de aprovar ou não qualquer intervenção armada.

Papa Jorge Mario Bergoglio entregou aos diplomatas da cúria romana aquela responsabilidade que os papas anteriores tinham colocado em certa ocultação. Na realidade é a ele que cabe decidir o tempo e o modo da geopolítica vaticana. Está levando isso adiante mais com o silêncio do que com as palavras.

Não falou sobre as centenas de jovens estudantes nigerianas, raptadas pelo Boko Haram. Esqueceu-se da jovem mãe do Sudão, Meriam, condenada à morte por ser cristã e por fim libertada a pedido de outros. Não falou sobre a mãe paquistanesa, Asia Bibi que há cinco anos está na fila da morte por ser considerada "infiel" e nem deu resposta às duas cartas que ela escreveu neste ano, antes e depois da reafirmação da condenação.

O rabino argentino Abraham Skorka, amigo di Bergoglio desde há muito tempo, confirmou a ideia do papa de que devemos tratar conflitos com carinho.

Mesmo com a mais sanguinária corrente muçulmana, o para reage desse jeito. Nunca se refere ao nome dos responsáveis. Devem ser "contidos" mas, não diz como. Reza e pede orações como fez com os dois presidentes, o de Israel e da Palestina. Apela sempre para o diálogo que deve unir e não se refere ao que divide.

Bento XVI em 2006, tanto em Ratisbon como em Istambul, falou como nenhum papa jamais havia feito: que a violência associada à fé é o conteúdo inevitável da fragilização da colaboração entre a fé e a razão no âmbito da doutrina muçulmana e na correta compreensão de Deus.

Ele falou claro para o mundo muçulmano que se encontra hoje perante o mesmo desafio que o cristianismo teve que enfrentar: o desafio de "acolher" os verdadeiros sucessos do iluminismo sobre os direitos do homem e, sobretudo, sobre a liberdade da fé e das formas de vivê-la".

Foi a partir da proposta de Bento XVI que desabrochou o diálogo entre cristãos e muçulmanos que deu origem à "carta dos 138 sábios", enviada ao papa Ratzinger pelos muçulmanos de mais alto nível integrando variadas tendências.

Pouco tempo atrás, o papa Francisco cumprimentou alguns dos representantes muçulmanos que chegaram a Roma para um novo encontro de diálogo. Mas não se falou das questões mais graves, o que significa que o terreno fértil se tornou árido.

Há mais de um milênio que a porta de interpretação do islã está fechada e o Alcorão se tornou indiscutível evitando graves riscos da própria vida.

Fonte: Site Chiesa

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