Ka'apor fecham BR - 316 pela expulsão de madeireiras das terras indígenas no Maranhão

Carolina Fasolo

Um grupo com cerca de 250 indígenas do povo Ka'apor bloqueia desde a manhã desta quinta-feira (3) a rodovia BR-316, no trecho que liga os municípios de Araguanã e Nova Olinda, no Maranhão. Para liberar a via, os indígenas exigem a presença de representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e Secretaria de Estado de Educação do Maranhão (Seduc).

Os Ka'apor denunciam a ausência de políticas públicas voltadas à educação e saúde para os povos indígenas no Estado. No entanto, a principal exigência do grupo é que a Funai providencie a retirada imediata dos madeireiros que estão dentro de suas terras, e que instale um Posto de Vigilância dentro da Terra Indígena Alto Turiaçu. "Nosso território está invadindo, explorado. Não dá mais pra vivermos assim", diz Irakadju Ka'apor, liderança da comunidade.

A instalação dos Postos de Vigilância na Terra Indígena foi determinada pela Justiça Federal, que havia estipulado a conclusão das obras até junho, porém nada foi feito. "Somos ameaçados o tempo inteiro pelos madeireiros, corremos risco de vida. A Funai tem que colocar um posto de segurança aqui na reserva. Faz muito tempo que queremos e pedimos apoio, mas não temos".

 

 

Pedido de socorro

Os indígenas alertam o governo e solicitam auxílio desde o término da Operação Hiléia Pátria, que fechou várias madeireiras e apreendeu caminhões na região. Depois da saída das equipes do Exército, Ibama e Funai, os madeireiros organizaram-se para atacar a Terra Indígena Alto Turiaçu.

Ainda mais vulneráveis e desassistidos que antes, os indígenas decidiram formar uma frente de proteção por conta própria. Retiveram invasores e apreenderam motosserras e maquinários usados na exploração ilegal de madeira das Terras Indígenas Awá Guajá e Alto Turiaçu. Dias depois, em represália, um grupo de 50 madeireiros armados invadiu a aldeia Gurupiuna. Na ocasião, os invasores amarraram e bateram em indígenas, saquearam plantações e levaram animais. Esse tipo de agressão contra os indígenas tem sido frequente.

Em janeiro deste ano, um grupo de 10 Ka'apor foi atacado enquanto realizava abertura de trilhas nos limites do território Alto Turiaçu, para a autovigilância e proteção. Tiros atingiram as costas e pernas de dois jovens Ka'apor e a cabeça do cacique da aldeia.

Ainda assim, os indígenas seguiram com o monitoramento territorial e ambiental. Irakadju Ka'apor conta que depois do aumento de ataques, a comunidade considera suspender as ações de proteção do território. "Estamos passando perigo. Eles estão preparados, tem fazendeiros envolvidos na exploração da madeira. Estamos com medo de morrer, por isso já discutimos muito se devemos continuar com nosso projeto de monitoramento ambiental. Estamos sozinhos, fizemos nossa parte, arriscando nossa vida todos os dias para proteger nossa floresta. A Funai precisa nos ajudar a tirar os madeireiros de lá. Eles ameaçam, exploram, tiram madeira e caça, seguem a gente e invadem nossas aldeias".

Na última semana, os Ka'apor haviam alertado sobre as ameaças de invasão de seu território por madeireiros. Irakadju diz que há muito tempo denunciam a situação, mas nunca houve ação efetiva dos órgãos responsáveis. "Estivemos em Brasília muitas vezes, mas ninguém encaminha nada. Nós pensamos como povo Ka'apor, e a única coisa que queremos é continuar com o nosso modo de vida com tranquilidade".

Esta notícia faz parte do boletim semanal O Mundo que nos Rodeia. Para recebê-lo ou enviar sugestões, basta escrever para mundo@cimi.org.br

 

Fonte: Site CIMI

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