Abrindo janelas, construímos pontes

Nei Alberto Pies *

Se a educação não transforma sozinha a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.

Paulo Freire. Educador.

O mês de dezembro sempre é um tempo de comemorações e vivências significativas para muitos que estudam. Dezembro sempre reserva reflexões e convicções sobre a importância de estudar, em discursos prontos ou produzidos pela criatividade humana, por ocasião das formaturas e celebrações de fechamento dos anos letivos.

Viver é a maior das nossas oportunidades. Estudar é uma das oportunidades que mais apropriadamente nos permite descobrir novos horizontes. Quando estudamos, ganhamos uma oportunidade de reconstruir pontes, projetar novas realidades, mudar de atitudes. É a chance de sairmos da solidão, porque, como nos diz Joseph F. Newton, "as pessoas são solitárias porque constroem paredes em vez de pontes".

Estudar é emaranhar-se num coletivo de pensantes mentes brilhantes, oportunizando que o saber acumulado e construído por cada um seja ressignificado através das trocas e através da aquisição dos saberes historicamente construído pelas ciências. Em todo espaço de construção de saber, geram-se conflitos, interesses, disputas. Nenhum saber é neutro, os saberes são permeados de crenças, ideologias, interesses e vaidades. E é por isso mesmo que precisamos discernir para não brigar entre a gente (os saberes que construímos carregam as contradições da vida). Nas contradições, da vida e dos saberes, moram também grandes verdades.
Os ritmos diferentes, a pouca disciplina para o estudo, as nossas diferenças e as dificuldades de convivência, a indefinição dos objetivos de vida de cada um são aspectos a serem observados, para serem modificados, se quisermos galgar o sucesso individual e da coletividade de uma turma ou sala-de-aula. "Nem tudo o que se enfrenta pode ser modificado. Mas nada pode ser modificado enquanto não for enfrentado". (James Baldwin).

Todos nascemos capazes de pensar, brilhar e mudar a realidade. Por conta das ideias, nos fazemos sujeitos de nossa história. O conhecimento, em permanente construção, requer da gente atitudes de aprendentes. Conhecer não é saber tudo, mas é estar aberto às possibilidades de aprendizagem que a vida e o mundo nos oferecem. A verdade é uma constante busca, não uma posse de um ou de outro. Somos, todos, capazes de apreender e conhecer a verdade, mas muitos preferem viver a mediocridade, preferindo não saber. É que todo conhecimento aprendido gera compromissos e responsabilidades, mas que nem todos desejam arcar.

Quanto mais conhecemos sobre nós mesmos, sobre nossas vidas e sobre a realidade, maiores as condições de nos reconhecermos como sujeitos de pensamento e de ação. Como seres de projeto, devemos estar atentos para avaliar se nossas escolhas estão em sintonia com aquilo que definimos como projeto de vida. Nunca é bom ser sem rumo; nunca é bom ser pensado pelos outros, mas sempre é melhor quando a vida é a marca de nossas opções.

Assim, a educação é a possibilidade de construirmos pontes. Pontes entre pessoas, pontes entre saberes, pontes entre os desejos e mudanças na vida real de todos nós. Estas pontes nos ajudam a lapidar os seres humanos, para que sejamos cada dia melhores. Pontes sempre indicam caminhos e horizontes que ainda desejamos trilhar. E neste processo coletivo e de trocas para fazer educação, ficarão as marcas de cada um e de cada uma. Ficarão, também, os desafios pessoais da aprendizagem que cada um deve superar, pois somos eternamente incompletos e insatisfeitos. Se é verdade que "a educação é aquilo que permanece depois de esquecermos tudo o que nos foi ensinado" (Halifax), desejamos que educadores e educandos, professores e alunos, em mais um final de ano tenham motivos para celebrar, na certeza de que sua missão foi cumprida.

Celebremos, então, todas as conquistas que se fazem pela educação, de janelas abertas para novas aprendizagens.

* Nei Alberto Pies é professor e ativista de direitos humanos.

Fonte: Nei Alberto Pies / Revista Missões

Deixe uma resposta

seis − 4 =