Mobilização pelo saneamento

Roberto Malvezzi (Gogó) *

Uma luz se acendeu pelas bandas de Belém do Pará. O povo se mobilizou, fechou ruas, reivindicando o saneamento básico para seus bairros. Até agora essa bandeira estava restrita ao movimento pelo saneamento e aos sindicalistas urbanitários.

É terrível, mas a cidadania brasileira, mesmo a partir de sindicatos e movimentos sociais, jamais teve o saneamento como bandeira de luta. Nas grandes manifestações de massa que assolaram o país, essa bandeira não estava presente. Quanto mais esperar essa iniciativa dos políticos ou do setor econômico. Sabemos que, de cada dólar investido em saneamento, se poupa de 4 a 10 dólares em saúde.

Quando Lula chegou ao poder, tendo Olívio Dutra como ministro das cidades, então foi elaborado o marco regulatório do saneamento básico. Era um passo extraordinário. Vale lembrar que nos governo de FHC o Brasil ficou proibido de investir em saneamento por um acordo do governo brasileiro com o Banco Mundial e FMI. Nesse acordo ficava vetado qualquer investimento em saneamento porque era considerado despesa pública, não investimento. Todos sabiam a razão: era necessário precarizar os serviços para depois privatizá-los. Com dez anos sem investimento, o resultado final foi uma calamidade.

Mas, se na era Lula o saneamento foi pautado, pouco tem sido implementado. O conceito de saneamento básico - que na verdade era saneamento ambiental e só continuou básico na lei para evitar inconstitucionalidades - engloba o abastecimento de água, a coleta e tratamento dos esgotos, o manejo dos resíduos sólidos, a drenagem da água de chuva e o controle dos vetores. Portanto, completo. Os últimos dados do IPEA mostram que avançamos aí uns 2% em cada um desses itens. Só o abastecimento de água está mais avançado. A coleta e tratamento de esgoto continuam uma aberração.

O PAC da Dilma inclui o PAC Saneamento. Ele tenta operacionalizar o Plano Nacional de Saneamento Básico - PLANSAB, que previu investimento de 415 bilhões de reais de 2011 a 2030 e assim sanear o Brasil.

Se o efeito for o que vemos aqui no vale do São Francisco, com obras iniciadas e incompletas, empresas falindo e desertando do trabalho, cidades esburacadas, ou obras mal feitas - um bairro de Juazeiro o povo dá descarga e o esgoto volta para dentro de casa -, sem falar nas corrupções e gatunagens empresariais, então vamos demorar mesmo alguns séculos para avançar.

Nossa luta aqui é tentar organizar o povo para fazer com que as obras sejam concluídas, bem feitas e atendam os interesses da população. Não se pode mais, literalmente, enterrar dinheiro público em obras essenciais como o saneamento. Portanto, não haverá execução decente dessas obras sem mobilização popular.

Bem vinda a manifestação dos paraenses. Quem sabe essa boa luta se espalhe pelo Brasil e esteja nas manifestações públicas das grandes cidades, junto com o transporte púbico, a saúde e a educação.

* Roberto Malvezzi (Gogó) é agente da Comissão Pastoral da Terra, CPT de Juazeiro, BA.

Fonte: Roberto Malvezzi (Gogó) / Revista Missões

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