De saudades da minha escola

Nei Alberto Pies *

As descobertas são a razão para manter uma alma viva!

A escola é um lugar que, por excelência, imprime marcas, antes de imprimir letras. Que ensina pouco, mas deixa ensinar. Que procura apropriar-se de conhecimentos, mas é tão apenas um lugar onde transitam e se renovam as ideias. Que embora finita como espaço de conhecimento, nos projeta para o mundo do ainda não descoberto, não por ser escola, mas pela natureza que nos constitui em busca de conhecimento.

Velha ou nova, a escola é a possibilidade concreta que permite perceber que o mundo, antes de real, é imaginário. Que a vida, antes de ser a dureza que é, pode ser criatividade. Que os homens, antes de detentores da verdade, embrenham-se numa busca, sem nunca a esgotar. Que a poesia e o encanto da vida está nas flores, nas pessoas, nas cores e nos amores dos quais usufruímos ou temos saudades. A escola é um destes lugares que revela para a gente o que somos e vamos sendo, em ação e em pensamento.

E deixa saudades. Saudades são feitas de manifestações das muitas coisas que já partiram e não voltam mais. Que nos fazem olhar para trás, olhando para frente. O passado não é só memória, mas é também o resultado e processo do que nos constitui hoje e que nos permite projetar o amanhã.

Escola é da vida, do conhecimento, das marcas e das lembranças, das relações entre iguais e diferentes. Nem sempre a nossa escola foi da cor, do tamanho ou da grandeza como ela poderia ter sido, mas sempre é e sempre será memória de um tempo que trazemos como herança do que fazemos, do que aprendemos, do que não fazemos, do que ainda temos a aprender.

Temos por certo que de muitas coisas a escola nos privou. Nem sempre os professores foram criativos e, mesmo sem nenhuma má intenção, tornaram-se afugentadores de nossos sonhos.

Quando já um pouco crescidos, se enchia-nos a rebeldia? Já se era o tempo em que comíamos frações, escrevíamos orações subordinadas e insubordinadas. Já conhecíamos o nosso corpo, andávamos querendo liberar nossos sentimentos e emoções.

Mas mais do que de sentimentos, a vida também é de relações. De quem a gente lembra dos tempos de escola? Daqueles que nos cativaram, nos mostraram o caminho por onde se desbrava a vida.

Muitos se passaram conosco. Poucos, no entanto, permanecem. Somente aqueles que, além de suas habilidades técnicas, tiveram sensibilidades para captar as nossas necessidades mais imediatas, canalizando-as para o um futuro não muito distante da vida e do conhecimento.

Escrever sobre a escola amplia na gente a origem e o sentido dos conhecimentos. Muito dela aprendemos, como instituição de saber e como mediadora de novas relações. A escola é a possibilidade de superação de muitas das nossas carências: emocionais, afetivas, de conhecimento, de compreensão de mundo e da realidade em que vivemos. Ela se torna mais ou menos significativa pela satisfação que a mesma for capaz de nos propiciar. Todos somos um pouco do retrato de nossa escola: inacabada, limitada, em permanente construção e superação. Tudo igual como na vida da gente!

* Nei Alberto Pies é professor e ativista de direitos humanos.

Fonte: Nei Alberto Pies / Revista Missões

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