Carta da Terra serve de inspiração para a Cúpula dos Povos na Rio+20

Jaime C. Patias, Cúpula dos Povos na Rio+20

"A Terra não precisa de nós. Somos nós que precisamos dela" (L. Boff).

Centenas de atividades autogestionadas promovem discussões e fazem propostas por justiça social e ambiental durante a Cúpula dos Povos na Rio+20. Na tarde desta sexta-feira, 15, um dos painéis que acontecem nas tendas espalhadas ao longo do Aterro do Flamengo lançou a Rede Brasileira da Carta da Terra e teve como principal expoente o teólogo e escritor Leonardo Boff. "A humanidade encontra-se num momento crítico de sua história, numa época em que ela deve fazer uma escolha: ou fazer uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou então aceitar a nossa destruição e a destruição da diversidade da vida", afirmou o pensador. "Isso parece apocalíptico, mas os vários testemunhos vindos da ciência dão conta de que essa é a situação. Pesa sobre nós uma ameaça que a grande maioria não se dá conta".

Para Leonardo Boff, em todos os documentos da ONU sobre questões climáticas ou sobre biodiversidade, os líderes mundiais "nunca se dão conta da gravidade sobre as ameaças que pesam sobre a diversidade da vida. Estão mais preocupados em salvar os bancos, as finanças e os juros. Não importa que a Grécia se afundasse, que espanhóis, italianos e portugueses cometam suicídio por causa das dívidas. ‘Que se matem, desde que nossos bancos permaneçam'. Quando eles se encontram não se perguntam sobre o futuro da humanidade ou sobre o que fazer para salvar a nossa civilização". Segundo o teólogo, essas seriam as questões fundamentais, mas não são discutidas. "E não temos muito tempo, pois podemos chegar atrasados. Dessa vez não podemos errar, pois não teremos como corrigir o erro", completou.

Observou ainda que a crise não é mais de um país ou região, mas é global, e isso pode significar que chegou a nossa vez. "A Terra não precisa de nós, ela até vive melhor sem nós. Somos nós que precisamos dela. Estamos numa situação de ‘guerra total'. Aceitamos o homicídio, aceitamos e lamentamos o etnocídio, e agora temos que nos confrontar com o ecocídio (matar ecossistemas), e se não cuidarmos cometeremos um geocídio (matar a vida da Terra). É um fenômeno novo", concluiu.

Carta da Terra
A Carta da Terra é uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. Reconhece que os objetivos de proteção ecológica, erradicação da pobreza, desenvolvimento econômico equitativo, respeito aos direitos humanos, democracia e paz são interdependentes e indivisíveis.

O projeto da Carta da Terra começou como uma iniciativa das Nações Unidas, mas se desenvolveu e finalizou como uma iniciativa global da sociedade civil. Em 2000 a Comissão da Carta da Terra, uma entidade internacional independente, concluiu e divulgou o documento como a Carta dos Povos. Para Leonardo Boff, hoje seria melhor chamá-la de "Carta da Mãe Terra".

Cúpula dos Povos
A Cúpula dos Povos, evento da sociedade civil que contrapõe a Rio+20, iniciou no dia 15 e se estende até o dia 23. Concentradas no Aterro do Flamengo, as diversas Atividades autogestionadas de articulação que acontecem em tendas armadas para o evento, realizam discussões e levantam propostas que serão reunidas em grupos temáticos nas plenárias de convergências. Segundo organizadores o objetivo é acumular debates para a Assembleia dos Povos, espaço central da Cúpula onde serão definidas as lutas, ações e práticas para o período seguinte à Rio+20.

Acesse o site da Cúpula dos Povos

Fonte: Revista Missões

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