Missa da 50ª Assembleia da CNBB ?? Bispos Negros

Pastoral Afro

1-Recordação da Vida- Dom Zanoni Dementtino de Castro - Bispo de São Mateus-ES

"Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura".

Nossa Assembleia vai ficando cada dia mais bonita. Hoje somos mais de 20 Bispos negros, motivo de muita alegria para nosso povo e jubilo para nossa Igreja! Somos descendentes daquele povo que foi arrancado da sua terra e trazido como escravos pra este País Continente (DA88). É o Povo que constitui uma das raízes da identidade da gente brasileira.

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Embora vivamos num novo tempo, numa nova época, em que não se admite preconceitos, os afro-descendentes ainda "são discriminados na inserção do trabalho, na qualidade e conteúdo da formação escolar, nas relações cotidianas" (DA88).

Como viver hoje o mandato evangelizador do Mestre Jesus? Numa época em que a escravidão era uma realidade profundamente arraigada, é valioso para nós o testemunho profético do Pe. Antonio Melo, pároco de Porto Calvo, uma Vila do Recife, hoje, Estado de Alagoas, no cuidado e na educação integral de uma criança negra, batizada com o nome de Francisco. Esse menino, educado na fé católica, foi iniciado no estudo das Sagradas Escrituras, aprendendo a ler, a escrever e até recitar textos em latim. Estou me referindo aqui sobre aquele que se tornou o grande ícone da resistência e da luta contra a escravidão, o guerreiro Zumbi dos Palmares.

Nossa história é rica de testemunhos bonitos de homens e mulheres negros: Padre Vitor de Três Pontas, Padre Antonio Pinto Ribeiro de Urucânia, Dom Silvério Pimenta (Mariana), primeiro Bispo Negro a entrar na Academia Brasileira de letras, a venerável Nhá Chica de Baependi, Dom Jairo Rui de Matos(Bonfim-BA), que viveu ao longo de seus 32 anos de episcopado no sertão árido da Bahia, Padre. Antonio Aparecido, o Pe. Toninho, na sua incansável tarefa de refletir a teologia e a pastoral a partir das comunidades negras.

Hoje também queremos agradecer a vida e o ministério de Dom José Maria Pires, Padre Conciliar, memória viva do Concílio Vaticano II, o nosso Dom Zumbi. Noventa e três anos bem vividos; setenta anos de padre e cinqüenta e quatro anos 54 de bispo, discípulo missionário de Cristo a serviço dos empobrecidos.

Nesta memória, faço minhas, as palavras de Dom Helder, o nosso grande profeta, no seu belíssimo MARIAMA: "Mariama, Nossa Senhora, Mãe de Cristo e Mãe dos homens, mãe dos homens de todas as raças, de todas as cores, de todos os cantos da terra. O importante, Mariama, é que a CNBB, a Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil embarque de cheio na causa dos negros".

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2-Homilia proferida por João Alves dos Santos - Bispo de Paranaguá-PR

Eminentíssimos Senhores Cardeais. Eminentíssimos, arcebispos e bispos. Reverendíssimos Senhores Presbíteros, Diáconos e Seminaristas. Aos caríssimos irmãos e irmãs da Vida Religiosa e Institutos Seculares. Queridos Irmãos e irmãs presentes neste santuário Nacional e que nos acompanham através dos MCCs.
Paz e Bem no Ressuscitado!

Reunidos mais uma vez nesta assembleia festiva, celebramos nosso encontro com o Senhor e com a mesma fé e alegria dos primeiros cristãos proclamou: o Senhor ressuscitou! Ele está no meio de nós. Queremos estar com Ele, ouvir sua Palavra e comungar seu corpo e Sangue, vida nova para a nossa vida e sustento para a Missão. Celebramos a festa de São Marcos, apóstolo e evangelista. O seu evangelho nos mostra "quem é Jesus". Jesus é o Filho de Deus, o Messias servo e libertador, o Mestre e Senhor. O Evangelho de Marcos não apresenta um caminho a percorrer, um itinerário para quem quer seguir Jesus. É o caminho do discipulado. É o caminho da Igreja.

Nos somos discípulos de Jesus. Ele nos chamou para fazermos uma experiência singular de amor com Ele e com nossos irmãos e irmãs. O é ser discípulo? É estar com o mestre, ouvi-lo, aprender dele, deixar-se conduzir por Ele, caminhar com Ele. Nossas comunidades recuperar o dom e o espaço da escuta e da contemplação. A soma desse amor e da convivência entre Jesus e nós chama-se encontro. É esta a proposta da Conferencia de Aparecida, realizada neste lugar sagrado e que também foi assumida por nós bispos, ao definirmos as DGAE: o encontro com Jesus Cristo como fonte e objetivo da missão rumo ao Reino de Deus.

O enfoque de nossa celebração eucarística é Bispos Negros e Pastoral afro-brasileira. Retorno à imagem do discípulo e da discípula.

As crianças negras ou afrodescendentes têm ouvido de discípulo. Recordo-me de minha infância, na comunidade rural: os pais, algumas tias e até mesmo os avós eram nossos catequistas caseiros, auxiliados pelos catequistas oficiais da Igreja. Era muito agradável quando, à noite sentávamos no chão em volta deles para a catequese, para a reza do terço ou também para escutarmos "os causos" - historinhas com ensinamentos para a vida. A palavra dos mais velhos, densa de sabedoria é inquestionável: ouve-se aprendem-se os conselhos e vive-se simplesmente bem. Também os jovens e adultos eram submissos aos idosos. E não se tratava em regime de escravidão, mas sim, de respeito e reverencia.

E o que dizer da partilha e da solidariedade, do serviço braçal compartilhado, da musica, da festa, da dança, da comida, da mãe terra comum que sustenta a experiência comunitária dos Quilombolas e ontem e de hoje? A meu ver tudo concorda com a primeira leitura de hoje em que se exalta a humildade no relacionamento mútuo e nas preocupações porque Deus resiste aos soberbos.
Pena que muitos desses valores foram sufocados na história da sociedade brasileira e pouco incorporados no ser e no agir de nossa Igreja.

Por outro lado queremos louvar a Deus por pessoas que significam muito na História da Igreja no Brasil! Bispos e missionários que acreditaram, investiram na educação, apostaram nas vocações, abriram seminários , quando muitos diziam que brasileiros ou afrodescendentes não tinham vocação para o sacerdócio e a vida religiosa, não serviam para os "trabalhos da Igreja". Graças ao Senhor e "a ação do Espírito Santo" na história e na fé do nosso povo há vários afrodescendentes, homens e mulheres, considerados santos e em processo de reconhecimento oficial da Igreja, sem falar daqueles e daquelas que vivem o Evangelho, na fidelidade e no anonimato em nossas comunidades e nos distantes rincões do Brasil.

Meus irmãos no episcopado: Aqui está um número expressivo de bispos negros. Vivemos, como nossos antepassados, os valores da cultura, das tradições e da fé católica. Somos discípulos missionários e pastores da Igreja, presente nesta multicultural terra de Santa Cruz. Cruz redentora de Cristo que dá sentido aos nossos sofrimentos e ao nosso povo. Acreditamos representar cerca de 50% da população brasileira que se declara afrodescendente, com quem temos um compromisso evangélico pela promoção e defesa da dignidade da vida para todos.

Queremos que ação evangelizadora da pastoral afro-brasileira, com suas limitações, desafios e projetos, estejam sempre mais inserida, afetivamente e efetivamente na missão da Igreja no Brasil, orientação dos seus pastores e na comunhão com o sucessor de Pedro.

Que o Espírito Santo ilumine a vida e a missão dos agentes de pastoral afro-brasileira nos seu compromisso batismal cotidiano e na busca de um Brasil melhor para todos.
Recordo com alegria e gratidão as palavras de estímulo de Dom Albano Cavalin, Arcebispo Emérito de Londrina, na abertura do 7ª Congresso das Entidades Negras Católicas do Brasil, em fevereiro passado, quando dizia: "que os negros injetem alegria na missão da Igreja".

Que a Virgem Senhora aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, negra Mariama nos acompanhe e proteja na peregrinação. Amém!

Aparecida, 25 de março de 2012.

Fonte: Pastoral Afro

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