Povos Indígenas: Caminhos do genocídio e da esperança

Egon Dionisio Heck *

"Estamos cercados de jagunços. Estamos passando fome. Peçam para a Funai e a polícia federal virem para cá. Já vieram nos fazer propostas de doações de comida para sairmos. Também nos ameaçaram - se vocês pegarem minha terra mato 2 ou 3 índios"

O grito da liderança Kaiowá Guarani do tekohá Guaiviry, município de Amambai-MS, que há dez dias voltou para seu tekohá - terra tradicional, provavelmente será sufocado pelas recentes medidas tomadas em nível do poder executivo e legislativo. Volta, e com muita força, o tempo de caça aos direitos indígenas. As recentes medidas do poder Executivo e Legislativo não deixam dúvida quanto a isso.

O governo Dilma não precisou de um ano ou dois, como em tempos anteriores, para dizer a que veio, na questão indígena. Não apenas se nega ao mais elementar numa democracia, qual seja o diálogo, o ouvir as pessoas de um componente importante da nacionalidade brasileira, que são os mais de 230 povos indígenas.

Na década de 60 as denúncias internacionais de esquartejamento de indígenas, como no massacre do paralelo 11, o envenenamento de grupos indígenas e a invasão de suas terras e espoliação dos recursos naturais, fez com que delegações internacionais viessem ao Brasil e comprovassem as denúncias, que acabou com a extinção do SPI (Serviço de Proteção aos Índios) e criação da Funai.

Hoje os açucares envenenados e esquartejamentos são outros, mais sofisticados. São as usinas de açúcar e etanol, são os mega projetos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), como a hidrelétrica do Xingu. A invasão não vem de transamazônicas ou perimetral norte, ou a rodovia norte sul, que exigia a retirada dos indígenas, isolados ou não, para que as estradas do progresso e da morte passassem.

Na época se denunciava os períodos da caça aos índios, com a expansão e o milagre que governos da ditadura militar anunciavam como progresso. Os índios eram considerados, empecilhos, cancros, obstáculos a serem removidos. Quem diria que um dia se voltassem a esses tempos, com outras roupagens. A ditadura do capital financeiro, as grandes multinacionais repetem a triste história.

Os acampamentos indígenas são a face mais perversa e nefasta da política de setores políticos e econômicos regionais, que tem se posicionado de forma obstinada e intransigente contra o reconhecimento das terras indígenas.

Encontros dos Acampamentos Indígenas do Mato Grosso do Sul
Neste contexto, tão adverso aos direitos indígenas, em que os interesses econômicos de minorias se sobrepõe aos direitos constitucionais dos povos indígenas, é que se realiza um primeiro encontro de representantes de umas dezenas de acampamentos indígenas do cone sul do Mato Grosso do Sul.

No momento em que está montada uma verdadeira operação de caça aos direitos indígenas em todos os poderes, aos povos indígenas resta a teimosa esperança e experiência da secular resistência.
No acampamento de Ita'y, onde se realizará o encontro, um bonito movimento de envolvimento da comunidade nos preparativos para esse importante momento de reflexão e luta dos Kaiowá Guarani deste estado.

So com intensa mobilização e denúncia nacional e internacional se conseguirá reverter esse absurdo quadro anti-indígena. Sobre os carimbadores da morte, serão lançadas as flechas do futuro, nesta primavera de muitas pragas, mas também de flores e sementes grávidas de novos projetos de sociedade, possíveis, necessárias e urgentes.

* Egon Heck, Cimi 40 anos - Equipe Dourados. Povo Guarani Grande Povo.

Fonte: Cimi MS

Deixe uma resposta

19 + 12 =