Mãos Unidas, corações solidários

Egon Heck *

Voluntários e funcionários de Manos Unidas, Mãos Unidas da Espanha e que em Guarani se poderia traduzir por "Jopoi" - mãos unidas, abertas para a reciprocidade, estiveram no Brasil, visitando as populações que apóiam com seu trabalho solidário no Brasil: meninos e meninas de rua, quilombolas, sem terra e povos indígenas, dentre outros.

Enquanto os indignados de seu país se agitavam em enormes concentrações e mobilizações de protesto contra o sistema consumista, capitalista, concentrador e excludente, 6 voluntários e funcionários de Manos Unidas, estavam conhecendo a outra face do mesmo sistema. Em duas semanas no Brasil, puderam ter uma ideia aproximada do sofrimento causado por uma das mais pungentes economias mundiais. Ouviram de seus interlocutores o porque a 8ª. economia do mundo produz tanta miséria, fome e sofrimento, quando poderia ser um país de grande justiça e igualdade social.

Em visita a quatro comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul - Guyrá Kambi'y e Yta'i, no município de Douradina e Panambizinho e Passo Piraju, no município de Dourados, puderam sentir um pouco o grande sofrimento, violência, fome e mortes que passam essas comunidades Kaiowá Guarani .

"Queremos conhecer a realidade de vocês para apoiar a construção de um mundo mais justo", disse Cristovão, que há 25 anos trabalha para na administração da entidade e agora está tendo a oportunidade de conhecer parte da população que apoiam. "Tem muita injustiça. Vocês vivem num país rico, mas injusto...Tinha muita vontade de conhecer vocês. Com todo esforço vamos continuar com vocês. Muita coragem, pois irão conseguir seus direitos". Dos índios com os quais puderam conversar e dialogar, ouviram inúmeras vezes a pergunta: "porque não demarcam nossas terras?" . Ao que os membros da delegação responderam prontamente, de que se trata de um direito dos povos indígenas e uma obrigação do governo brasileiro. O que Manos Unidas está fazendo é apoiar amigos e aliados de vocês, como o Cimi, para que com vocês possam cobrar esse direito, que estão em leis do país e normas internacionais.

Antônio, historiador, lembrou que "o povo Guarani tem um potencial moral e ético muito grande. Vocês são um povo de muitíssimas possibilidades. A guerra contra os Guarani não é de agora, são mais de 250 anos", ao fazer referência às guerras de Portugal e Espanha contra as reduções Guarani e o assassinato de Sepé Tiarajuentre recepção com pinturas no rosto, danças e falas.

Manos Unidas: 50 anos de luta e solidariedade
Manos Unidas é uma grande rede de voluntários que procuram sensibilizar a população espanhola para a solidariedade com os mais pobres e necessitados do mundo. Para tanto organizam eventos e campanhas sobre as diversas realidades e pedem a contribuição da população para organizar a solidariedade.

"Apoiamos vocês e queremos tê-los sempre no coração. Vosso sofrimento é nosso também", disse Gloria, que se mostrou muito sensibilizada com a luta e situação dos acampamentos.

Sergio falou da importância de estar construindo esse conhecimento e solidariedade. "A informação da realidade de vocês vamos fazer chegar até o nosso governo e ele certamente vai ajudar a causa de vocês". Depois lembrou que infelizmente nada acontece sem pressão e muita união.

Relatos do sofrimento e da esperança
Nas quatro aldeias visitadas, todos fizeram questão de falar sobre suas lutas para conseguirem suas terras e poderem continuar suas vidas do jeito Guarani Kaiowá. "Estamos que nem boi no curral de fazendeiro" desabafou Carlitos. Falou de falta de liberdade, da escravidão em que vivem. Ouviram denúncias sobre a precária situação do atendimento à saúde, à fome, quando atrasa a cesta básica, das doenças que vem das águas envenenadas. "Estamos oprimidos na mão do governo, da Funai e de outras instituições. Estamos oprimidos por parte da política...Estamos silenciados. Hoje somos os restantes do massacre", disse Ezequiel.

"Queimaram toda nossa cultura tradicional. Caçar e pescar são parte de nossa vida. Nóis ama essa terra. Queremos essa terra de volta", disse a liderança Joel.
Ao falarem de suas lutas e sofrimentos, sempre concluíam manifestando sua esperança de conquistarem seus direitos, especialmente à terra. A delegação de Manos Unida também insistiu na importância do encontro para se conhecerem e reconhecer que os Kaiowá Guarani são os donos destas terras, e que mais dia menos dia terão suas terras de volta.

* Egon Heck, Cimi 40 anos - Equipe Dourados. Povo Guarani Grande Povo.

 

Fonte: Cimi MS

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