A maioria quis Dilma

Carlos Chaparro *

Agora é preciso entender,debater e dar consequências
aos recados das urnas

O Brasil decidiu que Dilma Rousseff será nossa Presidenta da República nos próximos quatro anos. Encerrada a contagem dos votos e proclamados os resultados, dá-se o que de mais importante o sistema democrático oferece às relações sociais da Nação: o acordo das urnas, pelo qual os perdedores aceitam ser governados pelos vencedores. Porém, sem desaparecerem da cena política, pois aos derrotados caberá o importante papel de ser oposição legalmente organizada, com espaço e papel próprios nas novas relações de poder geradas pelo voto.

Temos uma presidenta eleita, e esse é um fato notável na vida da Nação. Mas os efeitos do evento eleitoral não se esgotam na contagem dos votos nem na proclamação dos vencedores. Ao contrário: aí está apenas o começo da nova retomada política que o próprio processo eleitoral impõe aos cidadãos e às instituições. E em primeiro lugar, num país com a grandeza e as complexidades do Brasil, é preciso entender, debater e dar consequências políticas aos muitos recados das urnas. E isso tanto vale para quem ganhou como para quem perdeu.

A simples avaliação crítica de como se deu a campanha eleitoral leva à inevitável conclusão de que o Brasil precisa encetar um novo debate sobre os seus problemas e os seus rumos - o debate que os candidatos não quiseram ou não souberam fazer, no decorrer da lamentável campanha, que ficou marcada pela ausência de programas de governo, pela indigência das idéias, pela virulência dos embates retóricos, pelas baixarias na Internet e por um ambiente de quase ódio que o próprio Presidente da República em alguns momentos incentivou, nos estranhos e inadequados comportamentos que assumiu como cabo eleitoral, em quase tempo integral.

A campanha eleitoral deixou evidente, por exemplo, que o país vive uma crise profunda no plano da Ética - e entenda-se Ética como o universo dos valores da Cidadania. O tema "Ética" não fez parte do glossário dos marketeiros nem das preocupações dos candidatos. Mesmo quando se falou de casos de corrupção, foi apenas como lances do embate eleitoral, não como prioridade civilizacional. E isso nos leva à triste dedução de que jamais o Brasil precisou tanto de um padrão ético em sua política e para seus políticos.

O Brasil precisa também, urgentemente, de uma reforma política que reforce, aperfeiçoe e dê consistência à sua Democracia, estabelecendo conceitos e normas que moralizem os tão degradados costumes políticos brasileiros.

Outro ponto importante nas carências nacionais que estas eleições colocaram em evidência: precisamos que a Presidência da República imponha a quem a ocupa deveres e responsabilidades de estadista. Um país com a relevância do Brasil precisa ter em Dilma Rousseff uma estadista que assuma e represente os valores constitucionais da Nação. Por isso, urge discutir as responsabilidades republicanas e de representação que cabem à recém-eleita Presidente da República, assumindo conceitos que ultrapassem a lógica burocrática com que na atual Constituição se definem as atribuições do cargo.

E porque a comunicação é seiva cada vez mais indispensável à vitalidade expressiva da própria democracia, precisamos, sim, discutir razões de ser, formas, modelos e comportamentos da informação jornalística, para que, sem mordaças censórias, o jornalismo se fortaleça como linguagem e espaço público confiáveis, a serviço do direito à informação e do sucesso das relações sociais.

Enfim, temas urgentes não faltam. Problemas e desafios também não. Nem contradições a desvendar e a debater. E porque muito há a escrever, voltarei ao assunto.

* Carlos Chaparro é jornalista. Acesse o Blog do Autor http://www.oxisdaquestao.com.br/

Fonte: www.oxisdaquestao.com.br

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