Eucaristia: Ação de Graças e Pão da Unidade

Servílio conti *

Sem dúvida cada um de nós vibrou de alegria e de edificação acompanhando espiritualmente o XVI Congresso Eucarístico Nacional, que aconteceu em Brasília nos dias 13 a 16 de maio, com o tema: "Eucaristia: Pão da Unidade dos Discípulos Missionários". Os Congressos Eucarísticos visam suscitar uma manifestação pública e solene de fé e de amor a Cristo Jesus presente nas espécies do Pão e do Vinho consagrados. É o grande Mistério da Fé. A Igreja nasce da Eucaristia e perpetua a Eucaristia como alimento espiritual dos fiéis.

Cristo prometeu: "Eu estarei convosco todos os dias até ao fim dos tempos". Por isso deixou dito: "Tomai e comei, isto é o meu Corpo; tomai e bebei este é o cálice do meu Sangue. Fazei isto em memória de mim".

Deus fez o ser humano à sua imagem e semelhança, o elevou pelo Batismo a ser seu filho adotivo destinado para a vida eterna. Existe, portanto em nós uma nova e divina dimensão, que necessita de um alimento divino apropriado para se alimentar, fortalecer e vivenciar.

Eis a Eucaristia, termo grego que significa "Ação de Graças" a substituir a nossa insuficiência em poder dar a Deus um Sacrifício que lhe possa ser eminentemente agradável, e ao mesmo tempo, é um apelo a uma vida de unidade de todos os cristãos.

Com razão o tema do Congresso Eucarístico marcou insistentemente que a Eucaristia seja para nós o Pão da Unidade.

A Eucaristia foi instituída num clima de refeição doméstica onde o pão e o vinho era na Bíblia, os elementos típicos. O comer juntos favorece a conversa familiar, simboliza uma sintonia de carne e de sangue, por isso, estreita os laços de amor e da solidariedade. Aliás, os melhores encontros entre amigos sempre se realizam com um banquete, o mesmo se pode dizer por ocasião de concluir uma aliança social.

Jesus participou várias vezes de refeições domésticas a fim de deixar aos comensais um sinal de sua boa nova.

Sua última Ceia nas vésperas de sua Paixão e Morte foi muito desejada por Ele, ao afirmar: "Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa antes de morrer" e o apóstolo são João acrescenta esta observação ao dizer "Jesus tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim", amou-os até ao extremo.

O diálogo de Jesus com os Apóstolos na Última Ceia foi uma efusão de amor revelando-lhe vários aspectos de sua doutrina como um testamento entre os seus discípulos, e entre todos aqueles que iriam acreditar em suas palavras. "Dou-vos um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Nisso todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros" (Jo 13,34). Elevou depois uma prece ao seu Pai: "Não rogo somente para eles, mas também por aqueles que com suas palavras irão acreditar em mim. Para que todos sejam um, assim como Tu Pai estás em mim e eu em Ti" (Jo 17,20)

A Eucaristia é uma Comum União: com Deus e com os Irmãos. Assim foi compreendida também pelos Apóstolos que reuniam as primeiras comunidades cristãs depois de Pentecostes. Isto está expresso nos Domingos, "Dia do Senhor" e no relato do livro dos Atos dos Apóstolos - "perseveravam nas orações. Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum. Partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração" (Atos 2, 42-47). Também São Paulo admoesta os cristãos de Coríntios (1Cor 11,34-40) repreende os fiéis pelas divisões e contendas que há entre eles nos encontros do culto eucarístico.

No primeiro escrito no seio da Igreja depois dos Evangelhos, a Didaqué "Doutrina dos Doze Apóstolos" se narram as celebrações da Eucaristia nos dias do Senhor, e o celebrante depois da Consagração do Pão e do Vinho, cujos grãos de trigo, espalhados pelos montes, recolhidos e moídos se tornaram um só Pão, assim também os teus fieis possam sempre viver em unidade de amor.

São Cipriano, bispo e mártir de Cartago, por volta do ano 250 escreveu o primeiro livro sobre o problema da unidade da Igreja, frizando como na Igreja há uma só Eucaristia, assim haja uma unidade perfeita.

Volta mais uma vez a insistência de Cristo: "Amai-vos uns aos outros como Eu e meu Pai somos Um. Porque nisso conhecerá o mundo que sois meus discípulos". Esta é a nossa identidade de Cristãos.

"Fica conosco Senhor, Vós sois o Pão da Unidade"

* Servílio Conti, 93, é bispo emérito de Boa Vista, RR.

Fonte: Revista Missões

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