A vida e a missão

Maria Regina Canhos Vicentin

Dias atrás fui assistir ao filme do Chico Xavier. Gostei. Bem feita, a filmagem retrata a trajetória de Chico desde a infância até a velhice. Nada de sensacionalismo nem apologia ao espiritismo, apenas a cinebiografia do médium e alguns de seus momentos mais marcantes. Interessante notar que Chico proveio de família católica praticante, mas parece não ter sido compreendido ou aceito em virtude dos fenômenos que lhe acompanhavam diuturnamente. Sofreu muito. Optou por se desligar do catolicismo, no entanto, conferiu à sua vida um caráter de missão, razão de ser, finalidade. Arrisco dizer que a idéia era minimizar o sofrimento das pessoas e o seu próprio. A paz, tão sonhada, parece não ter alcançado. Ao menos, não em vida.

Fiquei refletindo por vários dias o que leva uma pessoa a abdicar da própria vida para servir aos demais. Não foi assim com Gandhi, Madre Tereza, Irmã Dulce? Jesus certamente se apraz com todos eles. Gozado como alguns pensam que existem os privilegiados de Deus, os escolhidos. Assim, muitos simplesmente não fazem nada. Penso que todos somos escolhidos, mas nem todos aceitam a missão. Dedicar-se ao próximo pressupõe abrir mão de vários momentos pessoais. É deixar a própria vida de lado por alguns instantes, horas, semanas, meses ou anos, e empregá-la em prol dos demais, sem se importar com uma possível retribuição. Isso não é nada fácil e, aparentemente, nem um pouco vantajoso, levando-se em conta os valores cultuados atualmente: ter, poder, prazer.

Encontrar Cristo é maravilhoso, mas o desafio é permanecer Nele. Jesus sempre insistiu nessa permanência. "O amor que tenho por vocês é como o amor que o Pai tem por mim. Continuem no meu amor. Se vocês colocarem em prática os meus mandamentos, vocês continuarão unidos a mim pelo amor, assim como eu ponho em prática as ordens de meu Pai e continuo unido a Ele pelo amor" (Jo 15, 9-10). No entanto, só conseguimos isso pelas inspirações da graça, que nos são infundidas através do Espírito Santo em sua ação em nós. Precisamos, contudo, contribuir para que isso aconteça seguindo efetivamente Cristo - o caminho, pois Deus nos conferiu e respeita nossa liberdade de escolha.

Para permanecer em Deus é preciso viver a sua Palavra, e isso exige de nós a docilidade ao Espírito Santo, que nos molda à imagem de Jesus e nos presenteia com a perseverança e a fidelidade. Desde toda a eternidade, o Pai planejou para cada pessoa um modo diferente de ser Dele. Predestinou-nos para servirmos ao seu louvor e glória (Ef 1, 9-12). Devemos cumprir a nossa parte, sujeitando-nos à ação de Deus em nós. É Ele quem faz o santo, basta que nos deixemos guiar, sendo fiéis à voz do Espírito. Somente assim, cumprimos a nossa vocação específica, a nossa missão individualizada, cuja fidelidade terá repercussões eternas para muitos.

Oremos para que Deus nos auxilie e nos mostre nossa missão de forma clara. "O Espírito socorre a nossa fraqueza: não sabemos o que pedir, nem rezar como convém, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos que as palavras não conseguem explicar. E aquele que sonda os corações sabe qual é o desejo do Espírito, e que a sua intercessão pelo seu povo santo corresponde à vontade de Deus" (Rm 8, 26-27).

* Maria Regina é escritora - contato@mariaregina.com.br.

Fonte: www.mariaregina.com.br

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