FSM: Teólogo cubano destaca o papel da teologia na construção de outro mundo possível

Jaime C. Patias *

O teólogo cubano Joel Suarez, do Centro Cultural Ecumênico Martin Luther King, participou de quase todas as edições do Fórum Social Mundial. Este ano, o cubano está Porto Alegre, RS, para contribuir na construção duma agenda de transformação da sociedade a partir da teologia. Segundo o teólogo, para se fazer uma avaliação do processo do FSM é preciso analisar a história mundial e em particular a situação em que se encontrava a América Latina nos anos 90, em comparação ao que vivemos hoje.

Joel Suarez destacou que "estamos vivendo outro cenário político e social mas, por outro lado, se intensificou a reação da direita para tentar reverter os avanços conseguidos. Temos alguns governo que estão tentando romper com a lógica de dominação. Infelizmente toda a esperança que tínhamos com a chegada de Barack Obama ao governo dos Estados Unidos caiu por terra. Observamos ainda uma intensificação da agressividade dos Estados Unidos e uma forte presença militar", avaliou Suarez. "Contudo não temos mais a América Latina que tínhamos quando viemos aqui em Porto Alegre para o FSM em 2001", recordou. "Na época nos juntamos para articular melhor nossa resistência. Nos anos seguintes passamos a articular e organizar nossas alternativas com a contribuição dos movimentos e organizações sociais", ressaltou o teólogo em entrevista.

Joel Saurez explicou também que, a principal bandeira do Centro Cultural Martin Luther King, em Cuba, é a formação sócio teológica e pastoral, no campo da Teologia da Libertação e a formação de educadores para fortalecer as experiências inovadoras da participação popular. "No âmbito internacional o nosso maior esforço é, através do espaço do FSM, contribuir para a articulação das lutas sociais. Este ano nosso esforço está concentrado na Campanha contra as bases militares dos Estados Unidos e em questões relativas às mudanças climáticas. Nossa reflexão está concentrada na crise mundial, nas mudanças climáticas e na militarização", afirmou Joel.

A Teologia da Libertação (TdL) nasce na América Latina e Caribe num contexto histórico de ditadura militar, pobreza e dependência econômica. Para entendê-la convém visitar as obras de Gustavo Gutierrez, Juan Luis Segundo, Clodovis e Leonardo Boff, Jon Sobrino, Hugo Asmann, Ignácio Ellacuría, entre tantos outros. Os autores da TdL recorrem à teoria marxista muito mais para entender a gênese da opressão social, do que na busca de um projeto social alternativo. Neste caso, a orientação e a luz partem antes da Palavra de Deus. No campo eclesial a TdL recebeu influências da Ação Social Católica nos anos 50 e 60 do século passado e na difusão do método VER-JULGAR-AGIR que ajuda a entender os problemas sociais através de uma pedagogia crítica, por um lado, e de uma prática transformadora, por outro.

Para Joel Suarez, o papel da teologia, na luta pela transformação da sociedade está justamente na capacidade de, a partir da fé, desmascarar as maquinações do sistema. "Para nós que somos pessoas de fé", disse ele, "a teologia é fundamental, pois o capitalismo é um deus que quer a humanidade ajoelhada diante dele no que consideramos uma idolatria do mercado. Nós os cristãos e muita gente de outras religiões cremos no Deus da vida e por isso, o principal valor, é a afirmação da vida. A teologia tem uma tarefa muito importante para desmascarar as falácias do mercado que são quase divinas", explicou o teólogo popular.

* Jaime C. Patias, revista Missões no FSM 10 Anos, em Porto Alegre.

 

Fonte: Revista Missões

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