Palavra do Nordeste 2 ao Papa

Dom Genival Saraiva de França

Os Bispos do Regional Nordeste 2 da CNBB participaram da Visita ad Limina, em Roma, no período de 10 a 18 de setembro passado. Cada um dos Arce/Bispos das vinte Arqui/Dioceses, situadas nos Estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, foi recebido pelo Papa Bento XVI, em audiência privada. O Papa revelou muita sensibilidade e vivo interesse ao ouvir de cada Bispo a revelação da face da "porção do povo de Deus" que lhe está confiada, no tocante à sua realidade social, econômica, cultural, religiosa e pastoral.

Nesse encontro, ao ter o "mapa mundi" ante seus olhos e nele identificar o lugar de cada Arqui/Diocese, com sua vida e sua história, ficou evidenciado, claramente, que o Papa é um pastor solícito e não um chefe burocrata. Na verdade, o Papa tem consciência da universalidade de seu pastoreio, ao vivenciar a unidade e alimentar a comunhão eclesial com os irmãos Bispos que exercem um ministério de direito divino, em razão da sucessão apostólica.

Recebido em audiência coletiva, o Episcopado Regional falou ao Santo Padre, através do Presidente do Regional, Dom Antônio Muniz Fernandes: "Santo Padre! Nós, Bispos do Regional Nordeste 2 da CNBB, estamos sempre em comunhão com Vossa Santidade, pondo na prática de nossas Igrejas particulares as diretrizes do Documento da V Conferência do Episcopado Latino Americano e do Caribe em Aparecida: sendo uma Igreja Missionária e Samaritana a serviço da vida e da Esperança.

A Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe nos desafia para a Missão

O ponto de partida de Aparecida é a constatação de uma realidade de mudanças profundas que atingem a sociedade. É uma mudança de época, na qual o sentido da vida é questionável em todas as suas dimensões. Constata uma realidade que se coloca em direto confronto com os valores do Reino de Vida. A exclusão e o abandono de uma multidão de pessoas, colocadas à margem, ignoradas em sua dor e sofrimento, aniquiladas e negadas em sua condição é algo gritante que contradiz o projeto de Deus e desafia a Igreja para assumir um compromisso no qual a vida ocupe um lugar de primazia. Jesus anuncia um Reino onde a plenitude da vida é valor a ser promovido e defendido. Ele veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Quando confrontamos este Reino da vida e da liberdade com as situações de desumanização das pessoas, somos levados a perceber o abismo existente e a incompatibilidade gritante entre este Reino e a atual realidade que vivemos. Cada vez mais são gerados novos tipos de pobreza e exclusão, e rostos diversos desta realidade que é fruto da exclusão social vão se delineando diante de nós.

Há uma pobreza que leva o ser humano a experimentar não somente a exclusão, mas a própria condição de sentir-se supérfluo e descartável em um sistema que eleva o desenvolvimento econômico e o lucro como valores absolutos. Diante desta idolatria, há um clamor que emerge dos porões da humanidade e exige uma atitude verdadeiramente profética por parte dos discípulos de Jesus.

A Igreja se redescobre Missionária e se coloca em permanente estado de missão.

Como a Samaritana, a Igreja encontra o Mestre, sentado à beira dos poços da história, oferecendo a água que sacia, gera vida, provoca conversão, recupera o vigor e impulsiona para a missão. Convoca a um processo de desinstalação da rotina e do comodismo da vida; provoca revisão das estruturas, métodos e meios que não mais respondem à transmissão audaz da boa-nova do Evangelho. Como a comunidade de Samaria que recebeu o anúncio e acolhe a verdade transformadora do Evangelho, a Igreja deseja que cada uma de nossas comunidades, livre do cansaço, da desilusão e da acomodação seja, a partir do Evangelho, um centro capaz de irradiar a vida e de gerar e reacender nos corações a esperança.

Há um desejo explícito que a realidade da missão seja algo a penetrar o tecido da vida eclesial em todas as suas dimensões, inclusive com a conversão necessária de pessoas, estruturas e instituições que ultrapassadas não mais servem para a comunicação da boa nova libertadora de Jesus e para a promoção da cultura da vida. A audácia é exigida de todos para ir para além de uma pastoral de conservação a uma atitude decididamente missionária no campo da evangelização. Isto exige uma profunda renovação pastoral na qual todos os atores da vida da Igreja devem ser comprometidos e implica uma ação pastoral que seja realmente pensada, levando em conta os novos areópagos que desafiam a evangelização e o protagonismo dos novos agentes da evangelização. Também neste contexto de missão gostaríamos de humildemente pedir à Santa Mãe Igreja a reabilitação canônica do Padre Cícero Romão Batista e a Canonização do Apóstolo da Caridade o Padre Ibiapina.

Ao encontro de cada ser humano caído à beira do Caminho

A Igreja quer ser uma Igreja Samaritana e peregrina, uma Igreja sempre a caminho, misturada na história das pessoas, solidária com todos os que encontramos à beira do Caminho, deixados à margem, excluídos, negados na sua condição de humanidade. Uma Igreja que não seja uma mera passante, apressada, com compromissos superficiais que roubam a sensibilidade, mas uma Igreja com tempo para parar junto das pessoas e cuidar das suas feridas, sem horas marcadas para o fim da viagem, com reservas para provocar nos outros a cadeia de solidariedade e de comunhão com a vida humana ferida. Uma Igreja da esperança, capaz de pronunciar uma palavra no turbilhão do mundo. Uma Igreja onde a vida, mesmo frágil tem sabor de eternidade; Igreja, esposa de Jesus Cristo, que caminha na sua presença, que desperta nos seus filhos o sonho de trabalhar e servir com todas as forças. Pedimos a Vossa Santidade a tão desejada Benção Apostólica!"

Esta palavra dita ao Papa é a voz da experiência pastoral dos Bispos do Regional Nordeste 2.

 

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