O dia do leigo e da leiga

Pedro José Conti

O que não falta na vida de um bispo são reuniões. De todo jeito e com todo tipo de pessoas. Reuniões para planejar os trabalhos da evangelização, para administrar o que tem e para cobrir os buracos quando faltam coisas e pessoas. Reuniões com padres, religiosos e religiosas, animadores e animadoras de comunidades, autoridades de todo e qualquer escalão. Cada cinco, seis ou sete anos, tem reunião até com o Papa.

Muitas vezes, após a oração inicial, o encontro começa com a apresentação dos participantes. É aqui que, de um tempo para cá, estou fazendo algo que, para alguns é inédito, e para a maioria é perda de tempo. Faço isso de maneira especial, quando a maioria dos presentes é claramente leigo ou leiga. Após a primeira rodada de apresentações, na qual os participantes dizem o que fazem na paróquia, eu mudo a pergunta e digo: - Agora gostaria de saber, o que vocês fazem na vida? Se na primeira rodada as surpresas são muitas, na segunda rodada elas acabam sendo uma novidade, muitas vezes para os próprios participantes da reunião e até para os párocos presentes.

Assim se descobre que a catequista é funcionária da Prefeitura. O senhor que toca na Missa é um engenheiro com firma própria. O jovem da PJ é analista químico. A moça que brinca com as crianças é secretária num escritório de advocacia e cursa direito. A senhora do Apostolado, aposentada, foi outrora uma excelente professora e agora se transformou em babá de quatro netos, para que os pais deles possam trabalhar. E assim por adiante.

Nas nossas reuniões tem de tudo, do médico ao varredor de rua, da zelosa mãe de família ao tocador de brega que agora canta e toca na igreja. Tem policial, psicólogo, dentista, cabeleireiro, manicure, juiz, professor universitário, desempregado também. Fico feliz quando percebo que os presentes vibram ao apresentarem-se por aquilo que eles são, praticamente, todos os dias, e não somente por aquilo que fazem, por algumas horas, na Igreja. É simples: eles se sentem valorizados pela profissão que exercem, ou exerceram, na sociedade; pela atividade e competência que têm, enfim, por algo que não seja estritamente de âmbito eclesial.

Não quero ensinar a Missa ao vigário, mas convido-os a fazerem algo de semelhante. Perdemos tanto tempo nas nossas reuniões, com tantas discussões, palpites, propostas e projetos, como se a cada decisão estivessem em jogo à vida, a morte, a salvação, ou o fim do mundo. Podemos dar um pouco mais de espaço para ouvir o que os nossos amigos, irmãos e colaboradores- leigos e leigas - têm a nos dizer, simplesmente pela experiência da vida que possuem.  A impressão que damos, muitas vezes, nas nossas comunidades e paróquias é que o leigo e a leiga só têm valor se ajudam, de uma forma ou de outra, na Igreja. Fora isso, não sabendo bem onde vivem e o que fazem na vida, pensamos que seja tempo perdido. Nada de mais absurdo e errado. O lugar de santificação dos nossos irmãos leigos e leigas é justamente o mundo onde vivem, trabalham honestamente, contribuindo com a sociedade, sustentando as suas famílias e a própria Igreja.

O pior acontece, porém, quando eles próprios não dão valor ao seu serviço ou à sua profissão. Parece que “o mundo vasto e complexo da política, da realidade social e da economia, como também da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos ‘mass media’, e outras realidades abertas à evangelização, como o amor, a família, a educação das crianças e adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento” (DAp 210), não sejam lugares certos para contribuir também na construção do Reino de Deus.

No dia de Cristo Rei, no Brasil todo, lembramos a missão dos leigos e das leigas. Todos aqueles e aquelas que sustentam e ajudam nas nossas paróquias, comunidades e movimentos. Muitos dedicam mesmo horas e horas das suas vidas para atender e acompanhar as pessoas que lhes foram confiadas. Outros se preparam com capricho nas atividades que organizam. Contudo a missão do leigo e da leiga não se esgota nas atividades internas da Igreja, ela está aberta ao mundo, à sociedade, à história.

Todo batizado deve ser como o fermento na massa, talvez escondido, mas fazendo crescer o Reino de Deus. Não tem lugar, profissão, atividade, onde um batizado não possa dar bom exemplo, onde não possa agir com a força do Espírito Santo. Se não pode falar claramente pratique a Palavra, será a melhor homilia que poderá fazer. Sem usar discursos enfeitados, mas vivendo a única Palavra que dá sentido a todo o nosso viver, trabalhar e sofrer: o amor.

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