Setembro e Excluídos/as

Beatriz Catarina Maestri *

"Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos, quero ver brotar o perdão onde a gente plantou. Juntos outra vez! Já sonhamos juntos, semeando as canções no vento. Quero ver crescer nossa voz, no que falta sonhar! (...)"

Esta canção popular de Ronaldo Bastos e Beto Guedes embala a chegada das manhãs primaveris de setembro, com seu sol radiante, o sabiá cantante e o deslumbramento diante do colorido de inúmeras flores que enfeitam os caminhos.

Com as flores e o canto dos pássaros chega também a conclamação popular a participar de outro "canto", aquele que vem das multidões esquecidas, oprimidas e eternamente excluídas da sociedade e do acesso aos bens comuns.

"Já sonhamos juntos semeando as canções no vento!" Sim, é um sonho coletivo! É uma canção construída a muitas mãos, num mutirão que parte da certeza de que é preciso não calar! É preciso, urgentemente, gritar pela justiça! Semear novas canções por todas as ruas e praças, aldeias e campos, que façam renascer a esperança no povo machucado, que transformem a humilhação em protagonismo e o temor em ousadia crítica.

A vida em primeiro lugar! A força da transformação está na organização popular! Este foi o grito vibrante que soou em todo país neste sete de setembro, enquanto em Brasília desfilavam imponentes militares e a esquadrilha da fumaça fazia acrobacias pelos ares da Esplanada fazendo a "festa" dos políticos de plantão.

Para as pessoas que assistiam aos desfiles oficiais foram distribuídas camisetas com estampas de esportistas e a frase: "O Brasil une suas forças para essa vitória", numa alusão à candidatura do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016. Paralelo irônico este! O Brasil popular une, sim, as forças para a vitória contra a exploração impiedosa e capitalista que deixa um rastro de violência por onde passa, depredando a natureza e tornando descartáveis milhares de seres humanos. Uma outra vitória contra a corrupção política que aliena e acomoda, defende interesses próprios e vira o rosto para as contradições sociais, fruto de sua inoperância, insensatez e falta de ética.

"Muitos se perderam no caminho, mesmo assim não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer sol de primavera...". O desafio que persiste é unir a classe trabalhadora, pobres e excluídos, movimentos, associações... nesta "nova canção" pela vida e pela integridade da criação, neste "grito" pela participação popular consciente e organizada. Sem dúvida, muitos lutadores/as se "perderam no caminho" cooptados/as pela ânsia de poder e de lucro fácil, conquistados através de programas assistencialistas e de outras barganhas políticas.

"Abre as janelas do meu peito, a lição sabemos de cor, só nos resta aprender!" É sábia a canção! Sabemos de cor a lição transmitida por muitos poetas e profetas do povo, como Paulo Freire que assim nos alerta: "Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina".

Sete de setembro: milhares saíram às ruas. Em São Paulo, a Praça da Sé se encheu bandeiras e faixas misturadas às inúmeras expressões de indignação e luta. Seguimos em caminhada para o Ipiranga cantando canções e marchando pela Vida!
"Só nos resta aprender!". Prosseguimos o caminho, na certeza de que o aprendizado continua, está constantemente em marcha, na perspectiva do mutirão e da interconexão. É Freire quem, novamente, nos inspira: "E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria". É o desafio que persiste, se renova e se mistura à beleza das primaveras e do povo participante!

* Beatriz Catarina Maestri é Irmã Catequista Franciscana e da equipe do Cimi SP.

 

Deixe uma resposta

dezenove − oito =