O 12º Intereclesial e os desafios para a Missão da Igreja

Jaime Carlos Patias

De 21 a 25 de julho de 2009, Porto Velho - RO, foi sede do 12º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base - CEBs, encontro que acontece a cada quatro anos em um estado do Brasil. O tema que norteou os trabalhos dos cerca de três mil participantes, assessores e convidados foi "CEBs - Ecologia e Missão - do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia". Participaram na caminhada e celebração de encerramento no dia 25, cerca de 10 mil pessoas.

Mais uma vez, o povo das CEBs mostrou sua força no enfrentamento dos grandes problemas da humanidade contribuindo para a sua superação. Seguindo a metodologia já consagrada do Ver-Julgar-Agir, o 12º Intereclesial, desde as margens do Rio Madeira, no coração da Amazônia, colocou em evidência desafios para a Igreja e a sua missão, também no contexto urbano.

O primeiro desafio vem dos povos indígenas nas palavras de Eva Canoé, educadora na Terra Indígena Sagarana, primeira mulher a liderar a Coordenação da União dos Povos Indígenas de Rondônia: "não é a natureza que precisa de nós, somos nós que precisamos dela. Queremos dizer ao mundo e ao Brasil que estamos juntos com os não-índios na construção de um outro mundo possível". Esse grito para cuidar da humanidade e garantir o futuro da vida requer uma ética da compaixão e solidariedade. Somos interdependentes e por isso, o estilo de vida dos nossos centros urbanos também é responsável pela degradação da natureza. O Intereclesial reforçou a necessidade urgente de uma ética de responsabilidade pelo futuro da humanidade que nos permita um controle das conseqüências de nossos atos, através do consumo irresponsável. O grito que brota do ventre da Terra pede aos cristãos a se pautarem por uma ética do cuidado como missão e profissão de fé, muito além do "consumo" de sacramentos e devoções.

Em de Porto Velho tomamos consciência também de nossa responsabilidade em relação ao reto uso da água, da terra, do solo urbano e à superação do consumismo. A partilha de iniciativas em favor do meio ambiente, como a dos catadores de material reciclável, no meio urbano, as economia solidária, agricultura orgânica e ecológica são sinais de uma "Terra sem males".

Outro desafio para a Igreja na cidade brota da articulação entre fé e vida, uma das marcas das CEBs. Essa convicção foi expressa por um provérbio africano partilhado por dom Moacyr Grechi, arcebispo de Porto Velho, que diz: "Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, conseguem mudanças extraordinárias". Passamos a acreditar que os pequenos e excluídos, empurrados para as periferias das nossas cidades podem e devem fazer a diferença.

O Ato Penitencial e a caminhada fazendo memória dos mártires às margens do Rio Madeira onde está sendo construída a hidroelétrica São Antônio, reforça a missão profética das CEBs, que não concorda com o sistema desenvolvimentista depredador.

Além disso, motivado pelo tema "Missão e Ecologia", o Intereclesial mostrou como se poderia implementar, no meio urbano, a Missão Continental lançada em Aparecida. No terceiro dia os participantes partiram para a missão nas realidades locais entre as populações indígenas, comunidades afro-descendentes, ribeirinhas, extrativistas, assentamentos rurais, áreas de ocupação, bairros da periferia, hospitais, prisões, casas de recuperação de pessoas com dependência química, menores e pessoas com deficiência. Essa iniciativa serve de inspiração para que as comunidades urbanas se lançarem em missão, com organização e determinação.

Por fim, os testemunhos de vida na partilha gerada pelo encontro entre pessoas oriundas das mais variadas culturas e realidades do Brasil e algumas do exterior, a presença de representantes das Religiões Indígenas e dos Cultos Afro-brasileiros, de Judeus, Cristãos Ortodoxos, Católicos e Evangélicos, Muçulmanos, de todas as crenças, nos desafia ao diálogo e respeito à diversidade.

Lições de vida e sabedoria foram igualmente os testemunhos da senadora evangélica Marina Silva, com sua trajetória de menina analfabeta do seringal até a cidade de Rio Branco, no Acre, São Paulo e Brasília; o relato de dom José Maria Pires (dom Zumbi) sobre a história dos negros no Brasil, suas esperanças, resistências e lutas nos Quilombos; e a exibição do vídeo contendo o testemunho de dom Pedro Casaldáliga de São Félix do Araguaia - MT, com palavras de confiança em Jesus e na utopia do seu Reino.

Nesse sentido, o 12º Intereclesial evidenciou uma Igreja em movimento e não-institucional, organizada em rede de comunidades, com suas expressões de fé, encarnada nas mais diversas culturas dos povos. A missão da Igreja nos centros urbanos ganhará mais força e credibilidade se souber enfrentar esses e outros desafios.

* Jaime Carlos Patias, diretor da revista Missões.

 

 

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