Diocese de Roraima prioriza a criação de rede de comunidades

Jaime Carlos Patias, em Porto Velho

"Em Roraima, desde os anos 80, não se criam mais paróquias, mas redes de comunidades, no estilo CEBs, que se reúnem em torno da Palavra de Deus e na mesa da Eucaristia, em comunhão com os seus pastores, mas também na luta pela vida e o resgate da cidadania", disse o bispo dom Roque Paloschi, falando sobre a participação daquela diocese no 12º Intereclesial que se realiza em Porto Velho - RO.

Dom Roque explicou ainda que a sua diocese se preparou para o Intereclesial em sintonia com o Regional Norte I (Roraima e parte do estado do Amazonas), que fez no ano passado seu primeiro encontro regional das CEBs. O bispo que acompanha a sua delegação destacou a criatividade das comunidades em conseguir fundos para que 20 pessoas pudessem viajar a Porto Velho. "Fizemos um grande esforço para não depender de padrinhos e madrinhas organizando promoções nas comunidades para custear as despesas e facilitar a participação dos nossos representantes", afirmou.

A delegação de Roraima conta com representantes das comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol - RSS, Terra Indígena onde vivem aproximadamente 19 mil índios de cinco etnias e que homologada em 2005, pelo presidente Lula e confirmada pelo Supremo Tribunal Federal em 2009.

A opção a favor dos Povos Indígenas, feita pela Igreja, foi determinante durante os 30 anos de luta pela demarcação e homologação da RSS. Nessa caminhada as comunidades jogaram um papel essencial. Para dom Roque as lideranças indígenas reconhecem, com muita gratidão, o trabalho da Igreja que soube unir fé e vida, uma marca das CEBs.

"Gostaria de recordar o que disse uma liderança da Raposa Serra do Sol quando afirmou que a força e a coragem ao longo da luta pela identificação, demarcação e homologação da área e, sobretudo na retirada dos invasores, veio justamente das comunidades. Nós não podemos separar a vida das comunidades indígenas da vida das CEBs, porque nelas o povo encontra caminhos de solidariedade, de partilha, de acolhida e de zelo, também pelo meio ambiente e pela obra da criação. Isso representa sinal de esperança para o mundo de hoje", recordou.

Dom Roque recordou ainda a expressão utilizada pelo ministro do STF, Ayres Brito, ao dar o seu voto favorável à homologação da RSS em área contínua: "Deixemos que eles nos catequizem" e concluiu: "isso é muito importante num mundo onde muita gente está sobrando e cada vez mais os pobres são excluídos, onde cresce o preconceito e a discriminação. As comunidades indígenas estão dando uma grande aula de cidadania e profunda comunhão com a obra da criação e, acima de tudo, de fraternidade que eles nunca perderam e reforçam com o Evangelho".

Por outro lado, o bispo lamentou a destruição das benfeitorias por parte dos invasores ao deixarem a RSS. "Isso é um desrespeito para com aquilo que foi construído com dinheiro público impossibilitando que os indígenas pudessem usufruir das construções que lá estavam e que o governo estava indenizando. Essa ação foi muito violenta e, sobretudo, demonstrou um grande preconceito, racismo e falta de respeito para com as leis deste país", arrematou.

Na avaliação de dom Roque, as comunidades indígenas estão dando passos significativos. "Isso é importante porque, se a luta pela terra foi difícil, hoje a luta pela sua manutenção e para preservar os valores e tradições dos povos que nela vivem segue sendo um grande desafio".

 

Fonte: Revista Missoes

Deixe uma resposta

quatro + 12 =