A Missão

Demétrio Valentini

Neste final de semana a Diocese de Jales vive um clima especial de missão, com a realização de mais uma "semana missionária", desta vez na cidade de Santa Fé do Sul, nas proximidades do Rio Paraná, fronteira com o Estado do Mato Grosso do Sul.

Os efeitos positivos já podem ser comprovados, na alegre expectativa do povo de Santa Fé, que vai acolher missionários vindos de todas as comunidades, envolvendo a Diocese toda.

De novo se comprova como a missão desperta a Igreja, motiva sua ação, e acaba dando finalidade e sentido para a sua existência.

A Diocese de Jales promove, anualmente, estes momentos intensos de missão, para incentivar a diocese a permanecer em "estado permanente de missão", como recomendou a Conferência de Aparecida.

Mas, por diversos motivos, a dimensão missionária da Igreja permanece em aberto, quanto aos seus objetivos, aos seus destinatários, ao seu conteúdo e ao seu método.

Em que deve consistir a missão da Igreja? Não é fácil encontrar uma resposta exaustiva a esta questão fundamental. O fato é que vem crescendo a consciência da importância decisiva da missão para a vida da Igreja.

Esta consciência progressiva pode ser identificada pela seqüência de fatos e documentos importantes da Igreja em nosso tempo. O Concílio evidenciou a importância da renovação da Igreja. O Sínodo de 1974 ressaltou a evangelização como incumbência prioritária da Igreja. E finalmente em 1991 a encíclica "Redemptoris Missio" apontou a missão como razão de ser da própria Igreja. Agora, Aparecida apresenta uma sínese operativa da vida cristã, em forma de discípulos e missionários de Jesus Cristo.

Falta definir melhor em que deve consistir a missão da Igreja.

No final da Conferência, os bispos da América Latina e do Caribe decidiram empreender uma "missão continental". Ainda no contexto de Aparecida, pressentindo o desafio de concretizar esta proposta, se dedicou a última tarde de trabalhos para colher sugestões sobre a "missão continental".

Pode-se dizer que toda a Igreja da América Latina ainda está às voltas, para identificar em que deve, mesmo, consistir esta missão continental.

Algumas constatações já emergiram com evidência, começando pela recomendação de que a missão deve começar dentro de cada país, de cada Conferência Episcopal e de cada Igreja Particular.

Mas existe uma constatação importante a fazer. Está claro que a dimensão missionária faz parte do tema central da Conferência de Aparecida. Mas é preciso entender bem o que nos diz o sub-tema, destinado a precisar e a enfocar melhor o tema.

Pois bem, é no sub-tema - "Para que em Cristo nossos povos tenham vida", que fica explicitada com mais clareza a dimensão missionária da Igreja. Faz parte da missão da Igreja colocar-se a serviço da vida dos povos.

Em outras palavras, a presença da Igreja na sociedade é parte integral de sua missão. A Igreja precisa das pastorais sociais para dar consistência à sua missão. E as pastorais sociais precisam da inspiração do Evangelho para terem motivação de realizar o seu serviço, que assim amplia o seu horizonte e o seu alcance, pela estreita associação com o serviço de Cristo, que sempre se mostrou impregnado de solicitude pela vida do povo.

Assim fica mais viável, e mais realista, o "estado permanente de missão", sugerido por Aparecida. Ir ao encontro dos problemas que preocupam o povo, também é fazer missão. Com esta inspiração, ganha motivação a semana missionária que a Diocese está realizando, destinada a fortalecer a atitude missionária que Cristo nos ensina com seu exemplo.

* Bispo de Jales (SP) e Presidente da Cáritas Brasileira

 

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