Educação e transformação

Ivone Boechat *

O Brasil tem recursos para investir na educação, equiparados aos países de primeiro mundo. Gastam-se verdadeiras fortunas, em nome da educação, só em nome, porque se contabilizá-las mesmo, não chega esse dinheiro todo ao destino e nem se educa o homem capaz de promover a transformação que a humanidade anseia. Aliás, nem precisa de CPI para saber que a educação está mendigando, com o chapéu na mão. Há um déficit de no mínimo 254 mil professores na rede esfarrapada do sistema. Precisa falar mais o que? Distribuem-se computadores a analfabetos funcionais como se isto fosse inclusão. É tão “simples”! Complicam tudo.

Jesus deixou a proposta e o programa da pedagogia da transformação. Conforme explica o Apóstolo Paulo: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento...” Rm 12:2. Ele não propõe que o mundo seja mudado, mas sim, diz que é possível transformar-se as pessoas. O mundo, cada vez mais perto e visível, fica ao alcance de um mouzer e a bala perdida fica ali. Cadê o educador?

A verba acaba, antes de capacitar pessoas para assumir o comando da educação que a sociedade precisa! Os donos da verba preferem propor projetos disse daquilo e daquilo outro que fracassam, porque são feitos por voluntários despreparados. Cadê o salário mínimo do professor?

Não se implanta e já é até Lei, mas neste País, fazer Lei é muito “simples”. A gente paga horas extras, ela é votada, aprovada, comemorada e enfiada nos gavetões. Socorro! Se Carlos Drumond de Andrade estivesse aqui, iria, com certeza, reeditar sua poesia na capa da atual política de educação. Na poesia, ele já denunciara que “no meio do caminho tem uma pedra”... Diz-se que um certo rei mandou colocar uma enorme pedra no centro de uma estrada bastante movimentada e ficou à distância, observando as reações daqueles que por ali passavam. Ele desejava ver quem tomaria a iniciativa de retirar a pedra, que atrapalhava o livre trânsito.

Os homens de todas as camadas sociais passaram e todos igualmente se desviavam da pedra, subindo no acostamento. O rei notou que a maioria daqueles que caminhavam, apressados, queixava-se do rei por não se interessar pela conservação da via. Finalmente, um pobre lavrador aproximou-se da pedra e, com grande esforço, retirou a pedra do caminho. Acontece que, ao transportar a pedra para fora da estrada, sentiu que pisara em alguma coisa que certamente estaria embaixo dela. Depois de afastá-la do caminho, voltou e viu que no lugar ocupado por ela estava uma carteira. Abrindo-a, encontrou, além de uma respeitável soma de dinheiro, também uma notificação do próprio rei, esclarecendo que aquela importância se destinava a quem demonstrasse respeito, consideração mútua e urbanidade ao retirar da estrada a pedra que mandara colocar de propósito. Moral da história: O educador sabe o que fazer das pedras. A educação precisa mudar o ritmo e o tom do discurso para garimpar tantas pedras que encontra pelo caminho. E sobre pedras edificar escolas.

* Ivone Boechat é mestre em Educação, pedagoga, conferencista e escritora. Email: i.boechat@terra.com.br;
Fonte: Ivone Boechat / Revista Missões

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