Em Defesa do Território Quilombola da Ilha de Cajaíba

Movimento de Pescadores e Quilombolas *

O Movimento dos Pescadores e Quilombolas manifesta repúdio ao projeto da empresa Propert-logic de privatizar a ilha de Cajaíba, no Recôncavo Baiano. Esta empresa, de capital europeu, pretende instalar um mega-empreendimento turístico na Ilha denominado de ILHA DE CAJAÍBA ECO RESORT e inviabilizar o modo de vida de milhares de famílias que sobrevivem da pesca e do extrativismo da floresta.
A ilha de Cajaíba está localizada no município de São Francisco do Conde, na foz do rio Subaé no seu encontro com a Baía de Todos os Santos. Devido à respeitosa relação das comunidades remanescentes de quilombo com o território, as matas e o manguezal encontram-se em perfeito estágio de conservação. Cerca de 60% da área total da ilha é vegetação de manguezal, território considerado pelas comunidades locais como sustentáculo da biodiversidade regional por produzir variedades de espécies de mariscos, crustáceos, animais silvestres e árvores frutíferas. Esta riqueza ambiental favorece o desenvolvimento da pesca artesanal e garante a subsistência de várias comunidades pesqueiras na Baia de Todos os Santos. No interior da Ilha existem variados tipos de árvores frutíferas (cajá, jenipapo, tamarindo, goiaba, manga, dendê etc.) que são extraídas pelas comunidades circunvizinhas principalmente no período do inverno quando o acesso a atividade pesqueira fica difícil.

No centro da Ilha, existem um sobrado e um engenho com equipamentos de tortura (fosso: poço onde eram jogados os negros rebeldes e troncos onde estes recebiam o castigo exemplar) que somados a outros elementos que possibilitam o resgate histórico, apontam para o processo de resistência dos negros escravizados e/ou aquilombados neste território. Os elementos históricos culturais ali identificados, demonstram a importância simbólica/cultural da ilha para a população negra local e ao mesmo tempo motiva a luta das comunidades negras da região pelo reconhecimento como comunidades remanescentes de quilombos.

Este empreendimento denominado ILHA DE CAJAIBA ECO RESORT desconsidera a importância ambiental, socioeconômica, cultural e histórica da Ilha de Cajaíba para a população negra local. Caso seja licenciado pelo governo do estado da Bahia, produzirá um profundo impacto sócio ambiental. O projeto da empresa prevê a supressão da floresta atlântica para dar lugar a vários hotéis (resorts), campos de golf, marinas, iate clube, quadra de esportes, SPA, restaurantes, heliporto, estradas, etc. O projeto prevê o lançamento de esgotamento sanitário no estuário, bem como sua privatização para a prática de turismo náutico (wind-surfs, Jet-skis, caiaques, etc.). Esta perspectiva trará prejuízos para a pesca artesanal e estimulará conflitos sociais por conta da imposição de limites ao longo do canal de pesca; inviabilizará o extrativismo da floresta, atividade tradicionalmente praticada pelas comunidades como estratégia de sobrevivência e reprodução física e cultural.

Deste modo, convocamos a sociedade civil organizada, os movimentos sociais, para que apóiem a nossa luta a fim de impedir que o Governo do Estado da Bahia seja conivente com este processo de "neocolonização" das nossas riquezas ambientais ao passo que estaremos evitando mais um caso de racismo ambiental na Baia de Todos os Santos.

* Movimento de Pescadores e Quilombolas da Ilha de Cajaíba, Recôncavo Baiano

Fonte: www.adital.com.br

 

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