Os desafios da Missão Continental

Jaime C. Patias

Enquanto o mundo voltava seu olhar para os Jogos Olímpicos na China, aqui no continente americano acontecia o 3º Congresso Americano Missionário e 8º Congresso Missionário Latino Americano (CAM 3 - Comla 8). O Congresso reuniu, em Quito, Equador, entre os dias 12 e 17 de agosto, mais de 3.000 representantes de 33 países e trouxe contribuições significativas para reafirmar o compromisso da Igreja na América com a Missão. Com a drástica diminuição das vocações missionárias na Europa e na América do Norte, torna-se cada vez mais visível a aparição de missionários originários do hemisfério sul, especialmente da Ásia e da África, mas também da América Latina. Isso tem a ver com o amadurecimento das antes consideradas "Igrejas de missão" ou "países de missão". Assim temos, não somente missionários do sul que vão para a Europa, mas missionários do sul que vão para a Ásia, África e América Latina. Com isso, fala-se de "missão do sul a sul" contrastando com a situação anterior que era "do norte para o sul".

Num dos 17 fóruns, organizados pelo CAM 3 - Comla 8, o padre Antonio M. Pernia, Superior Geral do Verbo Divino destacou que a missão Ad Gentes já não pode ser considerada somente como missão Ad Extra, porque as "gentes" já não são apenas as que estão lá fora. As "gentes" também estão aqui no meio de nós e ao nosso redor. Por isso que, ao pensar na missão Ad Intra, em nossa casa, não podemos ficar apenas preocupados com os cristãos que se afastaram das nossas comunidades ou abandonaram sua fé. Esse é um dos desafios da Grande Missão Continental, tarefa proposta pela Conferência de Aparecida em maio de 2007, agora lançada oficialmente no encerramento do Congresso em Quito. Faz-se necessário entender a missão Ad Gentes também como missão Inter Gentes. À luz do Cam 3 - Comla 8, esta missão implica, entre outras coisas, a tarefa de construir ou promover uma Igreja multicultural, que seja lugar de "gentes" de diferentes culturas, casa comum, um instrumento de diálogo intercultural e um sinal da inclusão no Reino de Deus.

Graças ao fenômeno da mobilidade humana, por vontade própria ou forçada, as sociedades estão cada vez mais multiculturais. No início do novo milênio, estimava-se que no mundo havia cerca de 150 milhões de migrantes internacionais, uma de cada 50 pessoas. Os migrantes internacionais vêm e vão a todas as partes do mundo. Como resultado, muitas cidades são habitadas por grupos culturais sumamente diferentes, significando, a maioria das vezes, diversidade de culturas e por conseqüência, diversidade de religiões.

Contudo, mesmos que a missão Inter Gentes nos nossos países seja uma possibilidade, isto não elimina a necessidade da missão Ad Gentes, Ad Extra, além-fronteiras. É bom lembrar que o continente americano, com 46 países e uma população de 910.000.000, entre os quais 490.000.000 católicos (48% dos católicos no mundo) deixa a desejar quando se trata de contribuir com o envio de missionários e missionárias para os demais continentes. Se a América do Norte recebe 1.645 missionários e envia 8.193, a América Latina recebe 12.011 missionários e envia apenas 5.785. Comparativamente a Europa envia 66.776 e recebe apenas 7.764 missionários; a Ásia por sua vez envia 8.481 missionários e recebe 6.306. Já a Oceania envia 1.255 e recebe 1.647 missionários e a África recebe 14.748 e envia 2.585 missionários. Olhando para esses números, de fato, no continente americano, a missão Ad Extra é essencial se quisermos que a missão Inter Gentes em casa se converta num compromisso sério. Eis o maior desafio da Grande Missão Continental que deverá se desenvolver nas nossas paróquias e dioceses visando uma maior contribuição com a missão universal.

* Jaime Carlos Patias, imc, é diretor da revista Missões, mestre em comunicação.

 

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